Springora, Vanessa (2020). Consentimento. Lisboa: Alfaguara Portugal.
Nº de páginas:
184
Início da
leitura: 22/06
Fim da leitura:
23/06
Consentimento é um pequeno grande livro autobiográfico da escritora parisiense Vanessa Springora.
De
imediato, a leitura deste livro me deixou num tremendo mal-estar. O ritmo
alucinante da narrativa, fez-me lembrar um desabafo que queremos expulsar o
mais rápido possível de nós, como se a rapidez com que se conta esta história,
pudesse torná-la menos penosa para quem a vivenciou, uma espécie de expurgação,
como se algo que estivesse atravessado entre a alma e a escrita, pudesse sair
como um vómito de tudo quanto a autora viveu, um vómito, onde possa, de uma vez
por todas, libertar-se de um passado que ninguém se consegue imaginar a viver.
É, por isso, um grande “murro no estômago” do leitor, que fica imediatamente
preso à narradora, que entende que, apesar de muitas das situações descritas
poderem ter sido evitadas, nem sempre tudo acontece como queremos e, muitas
vezes, se consente no que é e deve ser inconsentido.
Afinal,
o que pode estar por detrás de um consentimento? Será apenas vontade própria?
Imaturidade? Vivências anteriores e desprendimento de que sempre se foi alvo?
Consentimento por parte de um familiar?
Um
grito de alerta para tantos e tantos consentimentos que há por aí, que,
reprimidos, podem destruir uma pessoa. Um livro que mexe connosco e que aponta
diretamente o dedo a um escritor francês conceituado, a cujas condutas
reprováveis a sociedade foi sempre fechando os olhos. Quantas e quantas vítimas
não continuam a ser ignoradas?
A quem ler: prepare-se para suster a respiração do início ao fim do livro, que vai, com certeza, ler de uma assentada!
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