Ó humano ser que me corróis
com as tuas dúvidas,
com as tuas críticas,
com as tuas exigências,
com os teus anseios.
Não ser eu simples de espírito
e ficar a ver fluir a vida
com um sorriso nos lábios.
Não!
Há esta mente que pensa,
Há este dormir com sonhos
de consumir em suores frios.
Há este estar sem querer estar,
ansiando estar já noutro estado,
noutros sítios, noutros sonos e sonhos.
Há este pisar um chão que não se pisa,
como um viver solto da própria vida.
Há este anseio não sei de quê,
nem sei porquê…
E num devorar de páginas de um livro,
anseio já o seguinte.
E no curso de um dia,
anseio já o seu fim.
Anseio deitar-me e dormir
um sono sem sonhos,
um sono reparador
que me transforme por dentro
e me mostre que há vida cá fora,
que há paisagens onde poisar os olhos cansados,
que há sol, há chuva, há vento, há seca.
E não apenas o constante nublado
que não permite ver para além das sombras.
Que há uma paz nas coisas mais simples
que não faz tremer as mãos
e enche de alegria o coração.
Ó humano ser, onde escondeste quem era?
Célia Gil
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