Ruiz Zafón, Carlos (2008). O Jogo do Anjo. Alfragide: Dom Quixote.
Nº de páginas: 576
Início da
leitura: 12/09/2021
Fim da leitura:
15/09/2021
Da
tetralogia O Cemitério dos Livros Esquecidos de Carlos Ruiz Zafón, tinha
lido apenas A Sombra do Vento e faltavam-me os outros três. Agora li O
Jogo do Anjo. O Prisioneiro do Céu e O Labirinto dos Espíritos
ficarão para uma próxima oportunidade. Tenho necessidade de ir intercalando
leituras e raramente leio dois seguidos do mesmo autor.
Foi
traduzido por Isabel Fraga.
Sinopse:
“Na
turbulenta Barcelona dos anos de 1920, um jovem escritor obcecado com um amor
impossível recebe a proposta de um misterioso editor para escrever um livro
como nunca existiu, em troca de uma fortuna e, talvez, de muito mais.
Com
um estilo deslumbrante e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do
Vento transporta-nos de novo à Barcelona de o Cemitério dos Livros Esquecidos
para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um
labirinto de segredos, onde o encantamento dos livros, a paixão e a amizade se
conjugam num romance magistral.”
Opinião:
Zafón
é Zafón, com o seu estilo muito próprio, que marca todas as suas obras.
Concilia romance, policial, thriller, terror, fantasia, gótico, drama,
pelo que é muito difícil integrar os seus livros numa categoria específica da
literatura.
Depois,
a forma como nos são narradas as histórias, quase sem pausas, sem momentos
mortos, num ritmo alucinante, com descrições cinematográficas, prende-nos de
tal maneira, que é com alguma contrariedade que pousamos os seus livros. Este
não foi exceção. E penso que tem de ser lido nesse ritmo que se quer
alucinante, uma vez que tem imensas personagens e episódios enigmático, sem intervalarmos
muito as leituras, para não corremos o risco de nos perdermos na narrativa e
termos de retomar um pouco atrás. Neste livro, contrariamente ao que sucedeu em
A Sombra do Vento, temos, de facto, momentos em que é difícil acompanhar
e entender na totalidade alguns acontecimentos, uma vez que o narrador,
protagonista da obra, é acometido por vários devaneios de loucura e ficamos, em
alguns momentos, na dúvida do que aconteceu e do que é fruto dessa demência.
A
linguagem de Zafón é magistral, é dura, direta, mas muito bem conseguida. Os discursos
diretos das personagens, tornam-nas tão reais, mesmo que fantasiada a história,
que as conseguimos perfeitamente imaginar. A linguagem de cada personagem é a
sua linguagem e uma marca da personalidade, da forma de estar e encarar a vida.
E cada personagem é diferente da outra. Tantas e tão bem trabalhadas! Que pena
tenho de não podermos ser contemplados com novas obras do autor! Pudesse ele
usufruir dos poderes do “patrão”, “o anjo negro” de O Jogo do Anjo, que
o pudesse trazer de novo à vida e poderíamos continuar a deliciar-nos com os
seus livros…
Neste
livro, voltamos a Barcelona, nas primeiras décadas do século XX. O protagonista
é David Martín, um jovem jornalista que anseia ser escritor e que assume o
papel de narrador. Não terá um percurso muito fácil e, quando se deslumbra com
a proposta de um editor, Andreas Corelli, ver-se-á obrigado a tentar descobrir
o preço que terá de pagar e que faça jus à incrível oferta monetária de Corelli.
Destaco como personagens que apreciei particularmente o livreiro Sempere, um
bom amigo, que parece ler a alma de David. Gostei também muito da Isabella, uma
personagem muito autêntica, com uma força inesgotável e que, também ela,
constituirá uma força positiva na vida de David.
Termino
com uma das muitas passagens da obra que poderia realçar, e passo a citar:
“Um
escritor nunca esquece a primeira vez que aceita umas moedas ou um elogio em
troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez que sente no sangue o doce
veneno da vaidade e acredita que, se conseguir que ninguém descubra a sua falta
de talento, o sonho da literatura será capaz de lhe dar um teto sobre a cabeça,
um prato quente no fim do dia e o que mais deseja: o seu nome impresso num
miserável pedaço de papel que com certeza viverá mais do que ele.”
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