O Lugar das Coisas Perdidas, Susana Piedade

Piedade, Susana (2020). O Lugar das Coisas Perdidas. Alfragide: Oficina do Livro.

Nº de páginas: 256

Início da leitura: 11/09/2021

Fim da leitura: 12/09/2021

Já me tinha surpreendido com outro romance desta autora, As Histórias que Não se Contam, e voltei a ficar fascinada com a forma como a Susana Piedade escreve.

Sinopse:

“Numa pacata vila de província, uma criança desaparece misteriosamente a caminho da escola, deixando a mãe em estado de choque e os vizinhos incrédulos e alvoroçados. No início, todos se oferecem para ajudar Mariana a encontrar a filha, mas, como sempre acontece nos meios pequenos, as intrigas, os medos e as desconfianças acabam por desenterrar histórias do passado e segredos que se julgavam a salvo, desencantando um culpado em cada esquina.

O caso torna-se ainda mais enigmático quando, na manhã em que a Alice sumiu, quase todos os que lhe eram próximos tiveram, curiosamente, atitudes estranhas, pelo que, entre tantos rostos conhecidos, talvez ninguém esteja, afinal, completamente inocente. E o pior é que a única pessoa que assistiu a tudo é também a única que não o poderá contar.

Num romance trepidante que mantém o suspense até à última página, Susana Piedade - finalista do Prémio LeYa com o romance As Histórias Que não Se Contam - regressa ao tema da perda e da culpa, oferecendo-nos uma história profunda e surpreendente, na qual quase nada é o que parece.”

Opinião:

Gostei tanto deste livro! Numa escrita muito boa, Susana cruza ficção e acontecimentos reais, sempre de forma a captar o leitor e a mantê-lo preso à história.

Cada capítulo se foca em determinadas personagens da pacata vila onde decorre a ação e termina sempre quando mais queríamos continuar a ler, num momento-chave, partindo para um novo capítulo a morrer de curiosidade em saber como continua o anterior. Por isso mesmo, é quase impossível largá-lo. Se não o li no mesmo dia, foi porque outros afazeres inadiáveis me obrigaram a pousá-lo. Confesso, sempre numa ânsia de retomar!

Adorei as personagens, muito bem construídas, muito credíveis.

A história é feita de vários dramas, dramas que são mais comuns do que possamos pensar, mas em que não queremos sequer pensar.

Tudo começa com a queda da ponte Entre Rios. Num dos autocarros, seguia mãe e filhos. Em casa tinham ficado o pai e a filha, Mariana. Quando se deu o acidente, era imperioso encontrar quem tomasse conta da pequena Mariana, uma vez que o pai bebia muito e era de uma grande violência. Mariana vai então viver com a tia. A partir daqui, desenrolam-se muitos acontecimentos, todos interligados, histórias de gentes da terra, de gentes que têm por hábito julgar os demais, que têm os seus problemas (muitos vindos da infância), os seus pecados, os seus crimes. Muitos são os temas abordados: a desestruturação da família, após a morte de familiares, a violência doméstica, a traição, a desistência da vida, o alcoolismo, a amizade, a doença de alzheimer, o rapto de crianças e outros. Temas muito bem estruturados, numa linguagem direta, simples, mas, ao mesmo tempo, cativante e bela, pelos recursos utilizados na dose adequada.

Poderia exemplificar com muitas frases, mas cito apenas algumas:

“A infância nunca foi um sítio tranquilo.”

“Mas o medo arranjou um esconderijo dentro dela.”

“Ninguém sabe ao certo o que se passa na cabeça de quem se vai desligando do mundo.”

“Algumas pessoas são tempestades. Trazem consigo uma carga enorme e acabam sempre por desabar.”

“As palavras adormeceram-lhe na boca.”

“Trazia o passado como um cadáver às costas, pesado e pestilento, na esperança de um dia o largar num buraco e nunca mais lhe sentir o cheiro.''

Recomendo muito a leitura deste livro!


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