Viagem a Portugal, José Saramago

Saramago, José (2011). Viagem a Portugal. Alfragide: Editorial Caminho.

Nº de páginas: 640
Início da leitura: 09/08/2023
Fim da leitura: 12/08/2023

**SINOPSE**

"O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já."

Acompanhar o viajante nesta "Viagem a Portugal" é simplesmente maravilhoso! Para além das referências a locais que já conheço e gostei de revisitar, descobri que ainda não conheço todas as coisas maravilhosas que o nosso pequeno país nos oferece. O viajante, narrador desta obra, fá-lo de forma fenomenal, como quem viaja. Para além de pensamentos "banais", que passam pela cabeça de qualquer viajante, este é alguém que o faz com deleite, sentido crítico e que, ainda por cima, revela uma cultura geral invejável e é maravilhoso o que aprendi com este livro. De norte a sul de Portugal, por estradas, por cidades, vilas e aldeias, por igrejas, capelas, monumentos, casas de escritores, rios, costumes, pessoas, vamos contactando com histórias, histórias de histórias, lendas, mitos, sonhos, curiosidades por detrás de cada sítio, vamos assistindo ao deslumbre e à desilusão, ao elogio e à crítica. Tive a sensação de fazer esta viagem com o viajante, a pé, não haveria com certeza um guia melhor para acompanhar o leitor. Depois, há o que se vê sem estar à vista.
Imperdível!
Deixo algumas (poucas) das muitas frases que sublinhei:
"Viajar deveria ser outro concerto, estar mais e andar menos, talvez até se devesse instituir a profissão de viajante, só para gente de muita vocação,"
"...cá fora, sentado nos degraus que dão acesso ao adro, o viajante ouve contar uma história da história da construção do templo."
"O viajante transporta-se dentro de um borrão de tinta, nem as estrelas ajudam, que o céu é todo uma pegada nuvem."
"Este caminho é uma festa que o céu acompanha enviando tudo quanto tem para mostrar."
"O viajante entristece. Estas histórias de milagres, de mudos que passam a falar, de círios do tamanho de um homem, cobriram por instantes a memória da tarde."
"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa."

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