Nenhum Olhar, José Luís Peixoto

 Peixoto, José Luís (2012). Nenhum Olhar. Lisboa: Quetzal Editores.

Nº de páginas: 224
Início da leitura: 14/08/2023
Fim da leitura: 16/08/2023

**SINOPSE**
"Numa aldeia do Alentejo, com um pano de fundo de uma severa pobreza, o autor vai tecendo histórias de homens e mulheres, endurecidos pela fome e pelo trabalho, de amor, ciúme e violência: o pastor taciturno que vê o seu mundo desmoronar-se quando o diabo lhe conta que a mulher o engana; o velho e sábio Gabriel, confidente e conselheiro; os gémeos siameses Elias e Moisés, cuja terna comunhão se degrada no momento em que um deles se apaixona; ou o próprio Diabo. As suas personagens são universais, assim como a sua esperança face à dificuldade. «... a partir da segunda ou terceira sequência ficamos seguros de que a inclinação é fatal: vamos embater num limite, num muro, num enigma, na origem do mundo e no desastre final...»"
Nenhum olhar é um romance complexo, nostalgicamente belo, que ganhou o Prémio Literário José Saramago em 2001.
Numa prosa poética que chega até nós pelas palavras de vários narradores, situamo-nos num espaço real, o Alentejo. O meio onde ocorrem as várias sequências narrativas é extremamente pobre e, quanto maior a pobreza, maior a crença no sobrenatural, no demónio, no gigante, numa cadela de "passos solenes", na voz presa dentro de uma arca, no homem com mais de 150 anos... Real e fantástico conjugam-se numa história que nos fala de amor, de sofrimento, de morte, num ambiente onde domina a noite e o silêncio, envolvendo as personagens e o próprio leitor numa grande nostalgia. Afinal, "... o lugar dos homens é uma linha traçada entre o desespero e o silêncio.”
A personagens são, também elas, fruto de meio em que vivem. De entre elas, destaco os gémeos siameses, Moisés e Elias, cujo único elemento distintivo era o facto de Elias não falar se não ao ouvido de Moisés, que reproduzia oralmente as palavras do irmão. De realçar a morte da mãe dos gémeos no parto (algo que, antigamente, acontecia com alguma frequência). E todos, tudo converge para um fim, em que nada somos, a solidão apodera-se das pessoas e só ela avança. Pelo caminho, tudo morre: morrem as crianças, morrem as mães, morrem as promessas, morre o engano, esse "engano de uma manhã que nasceu nos teus olhos", esse sonho cego, dominado pela morte, em que todos se tornam terra.
Recomendo!

0 Comentarios