Baiôa Sem Data Para Morrer, Rui Couceiro

Couceiro, Rui (2022). Baiôa Sem Data Para Morrer. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas: 448
Início da leitura: 05/09/2024
Fim da leitura: 08/09/2024

**SINOPSE**

"Quando um jovem professor decide aceitar a mão que o destino lhe estende, longe está de imaginar que, desse momento em diante, de mero espectador passará a narrador e personagem da sua própria vida. Na aldeia dos avós, no Alentejo mais profundo, Joaquim Baiôa, velho faz-tudo, decidiu recuperar as casas que os proprietários haviam votado ao abandono e assim reabilitar Gorda-e-Feia, antes que a morte a venha reclamar. Eis, pois, o pretexto ideal para uma pausa no ensino e o sossegar de um quotidiano apressado imposto pela modernidade. Mas, em Gorda-e-Feia, a morte insiste em sair à rua, e a pacatez por que o jovem professor ansiava torna-se um tempo à míngua, enquanto, juntamente com Baiôa, tenta lutar contra a desertificação de um mundo condenado.
Num romance que tanto tem de poético como de irónico, repleto de personagens memoráveis e de exuberância imaginativa, e construído como uma teia que se adensa ao ritmo da leitura, Rui Couceiro põe frente a frente dois mundos antagónicos, o urbano e o rural, e duas gerações que se encontram a meio caminho, sobre o pó que ali se tinge de vermelho, o mais novo à espera, o mais velho sem data para morrer."

Fico tão feliz por ver escrever tão bem em Portugal! É um enorme orgulho. A escrita de Couceiro pauta-se pela simplicidade, sem descurar a cultura geral que vai manifestando, não só em várias áreas do saber, como, principalmente, no que toca à tradição oral. Sente-se, também, a infuência de vários escritores portugueses, como Eça de Queirós, Mário de Carvalho, entre outros, criando, porém, um estilo muito pessoal e único e revelando grande destreza linguística.
O narrador é um jovem professor, que se encontra com uma depressão que não o deixa dormir. Vive na capital com os pais e, ao saber que na aldeia alentejana dos pais, Gorda-e-Feia, há um homem que está a reconstruir as casas que se foram degradando com o tempo, decide tirar uma licença sem vencimento e rumar para lá. Mas o seu interesse não se prende na casa enquanto património, tem mais a ver com uma procura de si mesmo, uma tentativa de se encontrar e de se salvar da depressão em que se encontra. Procura a lentidão, a vida onde nada acontece, onde a atualização das redes sociais não interessa.
A partir desta premissa, narra-nos várias histórias de Gorda-e-Feia, das suas gentes, que vão, inevitavelmente, envelhecendo e caminhando para a morte. Adorei estas histórias e, ao mesmo, tempo, senti esta nostalgia da passagem do tempo. Quando as personagens nos cativam, cada uma à sua maneira, ainda que de maneiras tão distintas, então, temos uma história incrível. Recomendo muito a quem gosta de ler boa literatura, pausadamente, aproveitando para refletir.
Adorei e recomendo muito.

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