Triste Tigre, Neige Sinno

Sinno, Neige (2024). Triste Tigre. Lisboa: Editorial Presença.


Tradução: Catarina Ferreira de Almeida

Nº de páginas: 224

Início da leitura: 14/09/2024

Fim da leitura: 15/09/2024

**SINOPSE**

"A memória é vívida, mas essa memória tingiu todas as outras imagens, todos os acontecimentos, a vida. Neige Sinno teria sete ou nove anos - a cronologia exata, essa, também está turva - quando o padrasto começou a abusar dela. No corpo de Neige, em tudo o que é matéria ou espírito da mulher que se tornou, a memória exata do abuso permanece. Calada, aos 19 anos, decide quebrar o silêncio, denuncia o agressor, passa pelo julgamento público, sai de França, depois da condenação. E, depois, há este livro, que não queria escrever. E, depois, há o passado que a alcança - e a certeza de que é preciso fazê-lo.

Este livro não é a história de uma criança que foi abusada; é a procura incessante e obstinada de Neige para encontrar a verdade sem adornos, por conseguir ouvir a sua voz real, por no-la fazer escutar, sem esquecimento, sem perdão, sem resiliência. Neste lugar de intimidade, onde só ela e nós habitamos, não há Lolitas, não há reparação de danos, não há a retórica da vítima.

Em Triste Tigre - que Annie Ernaux disse ser o livro mais poderoso e profundo que alguma vez leu sobre uma criança devastada por um adulto -, há palavras exatas, há ternura, há violência, há a urgência de testemunhar coletivamente. Porque, no silêncio e na solidão, o abuso acontece, mas o espaço físico que ocupa é o do resto da vida, e a sua dimensão negra torna-se um duplo que se sobrepõe a tudo.

Dialogando com os grandes nomes da literatura que mergulharam nesta dimensão, Neige Sinno escreveu um dos mais extraordinários, inclassificáveis e premiados livros dos últimos anos."
Que livro! Duro, porque real; comovente, porque cru. Qualquer livro que aborda "de corpo e alma" o abuso de menores, perpetrado anos a fio, é um livro que dói. Dói saber que vivemos numa sociedade tão cruel, numa sociedade disfuncional, numa sociedade doente.
A autora tem uma forma peculiar de nos apresentar este tema, uma vez que nos vai contando a história, refletindo, questionando, desbravando caminhos da mente que nos custa ver desnudados. Mas que é imprescindível desnudar, desvendar, eliminar. Este livro poderá constituir uma catarse para as vítimas, porque "convoca ao mesmo tempo o visível e o invisível", se bem que considere que, ainda que as vítimas possam vir a ter vidas perfeitamente normais e até felizes, sob elas estará sempre aquele fantasma que as relembrará a todo o momento da sua "inocência estilhaçada".
Um livro de não ficção.
Recomendo muito.

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