Couto, Mia (2024). A Cegueira do Rio. Alfragide: Editorial Caminho.
Nº de páginas: 328
Início da leitura: 22/10/2024
Fim da leitura: 26/10/2024
**SINOPSE**
"O primeiro incidente militar numa aldeia do Norte de Moçambique marca, em agosto de 1914, o início da Primeira Guerra Mundial no continente africano.
Esse inesperado episódio despoleta, para além disso, uma série de misteriosos eventos que culminam com o desaparecimento da escrita no mundo. Livros, relatórios, documentos, fotografias, mapas surgem deslavados e ninguém mais parece ser capaz de dominar a arte da escrita.
Os habitantes dessa aldeia são chamados a restabelecer a ordem no mundo, ensinando aos europeus o ofício da escrita e as artes da navegação."
Tudo começa um episódio verídico, sucedido em 1914, um incidente que, mais tarde, se esforçam por esquecer, numa aldeia entre a Tanzânia e Niassa, em que o exército alemão assassinou sem dó nem piedade imensas pessoas. E tanto os alemães como os nativos desejavam apagar essas memórias, o que não se percebia muito bem porquê. É com o objetivo de lutar contra "o esquecimento e o apagamento da memória coletiva", que Mia Couto escreve esta obra. Fá-lo dando-nos várias perspetivas dos acontecimentos e não como uma facto consolidado e passível de uma só explicação. As personagens cativam-nos, algo a que Mia Couto sempre nos habituou e trazem à tona o imaginário moçambicano, a crença e a sua sabedoria popular. A linguagem oralizante continua também como uma marca do autor, que aposta no vocabulário das personagens a par de uma poeticidade, que lhe é muito peculiar. Gostei muito, aconselho e deixo algumas passagens:
"Madziwa era um povoado mais deitado que um rio."
"Para o povo de Milepa, Deus é uma mulher".
"Deixei para o fim a doença que mais me intrigava: a cegueira dos rios. Assim designada, ninguém sabe se a enfermidade pertence à pessoa ou aos rios".
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