Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

 Cava, Felipe Hernandéz et Seguí, Bartolomé (2019). As Serpentes Cegas. Lisboa; Levoir.

Tradução: Carlos Xavier
N.º de páginas: 80
Início da leitura: 28/03/2025
Fim da leitura: 31/03/2025

**SINOPSE**

"Nova Iorque, 1939. Um misterioso homem de vermelho persegue Ben Koch, para saldar uma conta antiga que lhe resta de um passado a que ele queria escapar.

Mas o caminho de ambos irá cruzar-se com o espectro de Curtis Rusciano, um líder comunista que marcou a vida de Ben de maneira decisiva.

Uma obra marcante, que mostra o idealismo político a ser violentamente sepultado pela traição, o desencanto e o totalitarismo."
Nesta novela gráfica, reflete-se sobre a Guerra Civil espanhola, encetando-se uma crítica a propósito dos excessos cometidos em nome das ideologias, num ambiente de espionagem e vingança.
A narrativa segue Ben Koch, um antigo combatente das Brigadas Internacionais, que se vê envolvido numa perigosa perseguição em Nova Iorque, onde passado e presente se cruzam. A história constrói-se num jogo de sombras e segredos, explorando a desilusão política e as feridas da guerra.  
O estilo gráfico de Seguí, com um traço expressivo e um uso inteligente da cor e da sombra, reforça a atmosfera "noir" da obra. A sua abordagem cinematográfica e a estrutura fragmentada da narrativa criam uma leitura imersiva e tensa.  
Uma novela gráfica complexa e envolvente, que não só retrata um período conturbado da história, mas também levanta questões universais sobre traição, lealdade e o impacto dos ideais políticos. Gostei.

Martin, Madeline (2024). A Guardiã dos Livros Escondidos. Lisboa: TopSeller.

Tradução: Maria da Fé Peres

N.º de páginas: 416

Início da leitura: 28/03/2025

Fim da leitura: 30/03/2025


**SINOPSE**

"Zofia, em momentos difíceis, sempre encontrou conforto em duas coisas: nos livros e na sua melhor amiga, Janina. Contudo, nada a preparou para os horrores da ocupação nazi em Varsóvia. Enquanto caem bombas sobre a cidade e as forças de Hitler a saqueiam e destroem, Zofia descobre que também os livros precisam de ser salvos.

As duas amigas nunca abandonam o amor que partilham pela leitura, nem quando Janina é levada pelos nazis para um gueto judeu. E com o crescente número de mortes e a perseguição a intensificar-se, Zofia parte para a ação, procurando resgatar Janina, assim como todos os livros que conseguir recuperar dos destroços, escondendo-os e fundando um clube de leitura clandestino.

No entanto, quanto mais se aproxima a libertação de Varsóvia, mais perigosa se torna a vida das mulheres e suas famílias - e a fuga pode não estar ao alcance de todos. Enquanto a destruição grassa em seu redor, Zofia tem de lutar para salvar a amiga e preservar a sua cultura e comunidade, usando a única arma que lhe resta - a literatura."
Gostei tanto deste livro! Não é apenas mais um livro que decorre na II Guerra Mundial, é uma história envolvente e enternecedora, que nos envolve do início ao fim e que não sentimos vontade de largar. Dura, muito, mas enternecedora.
Bem documentada pela autora, esta é uma história ficcional que parte de situações históricas e personagens reais. As personagens são credíveis e interessantes e vivem em Varsóvia. Zofia, a protagonista e também a minha preferida, é uma jovem que, desde cedo, se interessa pela biblioteca e pelos livros (o que lhe terá sido também incutido pelo pai, um médico de renome). Quando começam a ser emitidas listas de livros proibidos e entregues na biblioteca, onde trabalha, para serem recolhidos e ser feita, a partir deles, pasta de papel, Zofia tem um papel fundamental, uma vez que consegue esconder vários deles. Estes livros eram, em determinada altura, lidos por um grupo de jovens, que debatiam sobre eles e aprendiam, avivavando o espírito crítico. Porque "havia poder na literatura." "Os livros inspiravam o pensamento livre e a empatia, a compreensão e a aceitação de todos de uma forma abrangente". Neste clube, inicialmente designado como Clube de leitura anti-Hitler" e, depois, "Clube de Leitura dos Bandidos", liam-se os livros proibidos, sendo alguns aqui referidos: A História da Minha Vida, de Helen Keller, A Metamorfose, de Franz Kafka, A Máquina do Tempo, de H.G.Wells, A Oeste Nada de Novo, de Erich Maria Remarque, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, entre outros.
A coragem, determinação, resiliência e espírito de ajuda e missão são excelentemente representados na personagem de Zofia, uma protagonista que não esquecerei. Aconselho!

Alcante, Didier e Bollée, LF (2022). A Bomba - Parte I No princípio era o nada. Lisboa: Gradiva BD.

Tradução: Isabel Lopes
Ilustrações de Denis Rodier
N.º de páginas: 216
Início da leitura: 24/03/2025
Fim da leitura: 27/03/2025

**SINOPSE**
"Porque é preciso saber. Uma banda-desenhada para todos.
Como um Guerra e Paz da BD!

No dia 6 de agosto de 1945, Hiroxima desaparece pulverizada por uma bomba atómica.
Um acontecimento histórico e trágico que põe fim à guerra e leva a humanidade a entrar numa nova era.

Em que contexto foi criada a bomba? Como foi tomada a decisão de a lançar? E porquê sobre Hiroxima? Quais foram os principais actores - ilustres ou desconhecidos - desta tragédia. Quais foram as consequências da explosão? O que sofreram as vítimas?

Com a leitura desta obra, o leitor assiste a tudo!

Das minas de urânio do Katanga até ao Japão, passando pela Alemanha, a Inglaterra, a Noruega, a URSS e os Estados Unidos; dos laboratórios de Los Alamos aos bombardeiros do Pacífico, eis… A terrível verdadeira história da bomba atómica!

Hoje ainda mais arrepiante. Que alguns parece quererem continuar a escrever…"
Tudo o que aconteceu antes da bomba de Hiroxima, as decisões tomadas, os passos dados, os protagonistas da criação da bomba atómica, os estratagemas políticos estão aqui muito bem retratados, nesta viagem que tem início nas minas de urânio do Katanga e se estende até ao Japão, com passagem pela Alemanha, Inglaterra, Noruega, URSS e EUA.
Uma novela gráfica que percorre todos os pormenores e bastidores da criação do engenho humano mais mortífero, criado pelo ser humano para matar os seus semelhantes, narrada por ordem cronológica, com a apresentação de diversos pontos de vista e controvérsias que envolveu. A luta pelo poder é inqualificável.
Fiquei com interesse em ler a continuação, o volume II, que será, com certeza, tão esclarecedor e interessante quanto este primeiro volume.

Ródenas, Gabri (2019). A Avó Que Percorreu o Mundo de Bicicleta. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Maria de Almeida
N.º de páginas: 136
Início da leitura: 25/03/2025
Fim da leitura: 27/03/2025

**SINOPSE**
"Doña Maru tem noventa anos e uma vida pacata em Oaxaca, México. Percorre diariamente de bicicleta uma longa distância para levar doces, alegria e o seu sorriso às crianças do orfanato. Criada, ela própria, num orfanato, no Chile, de onde fugiu com treze anos, sabe bem o que é estar só no mundo. A vida não foi fácil para ela, mas a velha senhora sempre manteve o caráter rebelde e ouviu os murmúrios do seu coração.

Quando descobre que tem um neto, em Veracruz, decide partir a galope no cavalo de vento? A sua velha bicicleta? Em busca do rapaz numa viagem reveladora do poder dos sonhos.

Com esta fábula cheia de magia, humor e espírito positivo, Gabri Ródenas convida-nos a abrir a caixa dos tesouros que a vida nos oferece - a esquecer o que nos entristece ou o que nos aborrece para abraçarmos uma existência mais emocionante, mesmo que de início isso nos possa parecer desconcertante e insólito. É um convite para vermos a realidade tal como a víamos nos longos verões da nossa juventude, em que tudo resplandecia e o mundo se revelava pleno de aventuras e oportunidades."
Confesso que fui induzida em erro pela capa e pelo título deste livro. É um livro de autoajuda,  ainda que não considere que o seja exclusivamente, uma vez que a reflexão surge através de uma história ficcional, que nos é contada e que tem como protagonista uma mulher de 90 anos. Esta, Doña Maru, empreende uma viagem de bicicleta à procura do seu neto e vai partilhando, com as pessoas que encontra no seu percurso e que, normalmente, têm um problema existencial, sabedoria, amor, conselhos e os bolinhos que faz. 
Confesso que, apesar de ternurento, acaba por se tornar um pouco previsível e com frases feitas. 
Mais uma vez comprovo que este não é, de todo, o meu género de leitura. Teria ganho se fosse apenas a história de Maru e se evitassem os clichés de reflexão sobre a existência, a vida, os traumas do passado e a esperança no futuro.

Schmitt, Eric-Emmanuel (2018). O Lutador de Sumo Que Não Conseguia Engordar. Lisboa: Marcador.

Tradução: Maria Fraústo
N.º de páginas: 80
Início da leitura: 23/03/2025
Fim da leitura: 24/03/2025

**SINOPSE**
"Selvagem e furioso, Jun vagueia com os seus quinze anos pelas ruas de Tóquio, longe de uma família da qual se recusa a falar. O seu encontro com um mestre de sumo que o vê como gordo apesar do seu corpo emaciado, envolve-o na prática da mais misteriosa das artes marciais. com ele, Jun descobre o desconhecido mundo da força, inteligência e aceitação de si próprio.

Mas como alcançar o zen quando não há nada além de dor e violência?
Como tornar-se um lutador de sumo se não se consegue engordar?

Na populosa metrópole japonesa, o ancião Shomintsu guiará o jovem por um caminho iniciático que, misturando infância e espiritualidade, também acompanha o leitor à fonte do budismo."

Jun, o protagonista da história, é um jovem que vive na rua e vende um pouco de tudo para sobreviver. A história começa com um encontro casual com um velho que, ao olhar para ele, declara: "Vejo um gordo em ti". 
Essa frase, aparentemente simples, será a chave que impulsiona todo o enredo e que abre caminho para as profundas reflexões que o livro propõe. O velho Shomintsu dá-lhe dinheiro para comprar um bilhete para um espetáculo de sumo. Porém, Jun gasta-o no seu fornecedor e o velho acaba por lhe dar, em vez de mais dinheiro, um bilhete.
Um livro repleto de sentido de humor, mas com uma moral, como os restantes livros de Schmitt. Gosto muito da forma como o autor escreve e nos cola imediatamente à história e às suas envolventes personagens. Aconselho vivamente!

Horta, Maria Teresa (2019). Quotidiano Instável. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

N.º de páginas:176

Início da leitura:18/03/2025

Fim da leitura: 23/03/2025

**SINOPSE**

"Quotidiano Instável é o título da coluna publicada por Maria Teresa Horta no suplemento Literatura & Arte do jornal A Capital, entre 1968 e 1972. Inicialmente concebida como um espaço de crónica, a coluna assumiu progressivamente um carácter ficcional, especialmente notório quando lemos as crónicas reunidas num livro como agora acontece.

A belíssima prosa poética de Maria Teresa Horta acaba assim por ser lida como uma unidade ficcional, a prenunciar o primeiro romance da escritora, Ambas as Mãos sobre o Corpo, que Eduardo Prado Coelho incensou como uma obra-prima."

Quotidiano Instável é um livro de crónicas que explora os meandros da vida quotidiana, as suas tensões e os seus desafios, assim como a fragilidade da existência humana. O livro, de tom intimista e lírico, mergulha nas emoções e dilemas que permeiam o dia a dia das personagens, refletindo sobre a instabilidade das relações e da própria vida.

Com a sua habilidade literária, Maria Teresa Horta consegue, pela poeticidade, pela forma como usa as palavras, tornar o que faz parte do quotidiano de todos em algo grandioso e carregado de significados, trazendo à tona questões existenciais e profundas sobre o ser humano, a sociedade e as suas contradições, a fragilidade e a instabilidade do tempo presente, a solidão, o medo, as escolhas pessoais e as relações interpessoais, com uma grande carga emocional.

O estilo e linguagem são mesmo muito bons.

Gonçalves, Hugo (2025). Filho do Pai. Lisboa: Companhia das Letras.

N.º de páginas: 248
Início da leitura: 11/03
Fim da leitura: 20/03

**SINOPSE**
"Uma morte e um nascimento separados por poucos meses. Um desencontro que impediu Hugo Gonçalves de ser pai e filho ao mesmo tempo, mas que o levou a indagar a história da família e um património em que a virilidade era uma divisa.
Alternando o registo do diário com a escrita do romancista, o drama com o humor, este livro assumidamente biográfico explora a difícil relação de um filho, órfão de mãe, com o pai viúvo, desde a infância até à idade adulta, quando a morte os separa e o filho se torna, também ele, pai de um rapaz.
O que fazer com os modelos de masculinidade, herança de homens forjados na escassez, na dureza e na lealdade do sangue? Que género de paternidade escolher para si, agora que o escritor tem um filho pequeno? O que significa, hoje, ser homem e pai?
É a partir das dúvidas, num tempo de certezas polarizadas e trincheiras ideológicas, que viajamos pelas décadas e pelo mundo, da pequena aldeia raiana dos antepassados do autor até Nova Iorque, Madrid e Rio de Janeiro do século XXI, seguindo o rasto da memória, do corpo, do sexo, do amor, da escrita e da paternidade.
Um texto comovente e inquietante, que vem enriquecer a odisseia pessoal do autor, iniciado com Filho da mãe, que tocou milhares de leitores."
Já tinha lido Filho da Mãe e adorado e não podia deixar de ler este também. Tal como o outro, é um livro biográfico, que nos dá a conhecer momentos do passado do autor, desde a infância até à idade atual, quando já é ele também pai. Há vidas que contam histórias e a de Hugo Gonçalves não é exceção. 
Até que ponto alguém se pode dar com um pai que, a dada altura da sua vida, é capaz de dizer: "És uma má pessoa, basta ler as coisas que escreves.". Mas que, ao mesmo tempo, não deixa de ser o seu pai que, numa outra altura da vida, escreve um livro de memórias e pede ao filho que leia e reveja esse livro. Um pai que "afirma ter orgulho dos meus livros, os mesmos que usa como prova do meu mau carácter".
Poderá ser-se o pai que o filho quer quando o filho não é o que o pai queria?
Que modelos de masculinidade e de paternidade se podem herdar de um pai? Masculinidade e paternidade que estão hoje a ser redefinidas e repensadas.
Aconselho vivamente!

Sobral, Luísa (2025). Nem Todas as Árvores Morrem de Pé. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

N.º de páginas: 224
Início da leitura: 16/03/2025
Fim da leitura: 20/03/2025

**SINOPSE**
"Este é um romance sobre duas mulheres unidas pela desilusão e pelos cinquenta anos mais tristes da história da Alemanha. Com uma estrutura muitíssimo original e uma galeria de personagens inesquecível, Nem Todas as Árvores Morrem de Pé marca a estreia fulgurante de Luísa Sobral na ficção.

Emmi, que nasceu pouco antes de Hitler ascender ao poder na Alemanha, perde o pai na guerra e tem uma adolescência difícil, trabalhando desde muito cedo para ajudar em casa. É num bar aonde vai com os amigos depois do trabalho que conhece Markus, um homem de Berlim Leste que lhe escreve cartas maravilhosas e por quem se apaixona perdidamente.

Apesar de a mãe torcer o nariz ao seu casamento num momento em que a Guerra Fria está ao rubro, a irmã apoia-a, e Emmi acaba por ir viver com Mischa, como lhe chama, para a RDA. Inicialmente, tudo corre bem, mas, depois de o Muro de Berlim ser erguido, a separação da família e a chegada de uma carta anónima deixam-na na mais profunda depressão.

M. nasce após a divisão das duas Alemanhas e é o fruto perfeito do socialismo: com uma mãe ausente e educada por uma ama que adora plantas, M. idolatra o pai, desconhecendo por completo o mundo ocidental e crescendo ao sabor de uma realidade distorcida. Até que um dia, ao ouvir o testemunho chocante de uma rapariga, descobre que, afinal, não é só o Muro que tem um outro lado."
A escrita desta obra teve como mote uma notícia de jornal, que se tornou canção ("Maria Feliz"), e que acabou num romance que recria o passado de um casal alemão que se suicidou em Portugal. Há vários pormenores na obra que partem da história real de Maria Feliz, por exemplo o seu amor por plantas.

A história tem início pouco antes de Hitler ascender ao poder na Alemanha, atravessa todo o período da guerra fria, até à queda do muro de Berlim, e passa por Itália, antes de chegar a Portugal.
Nesta obra temos duas histórias que nos vão sendo apresentadas alternadamente: Emmi, nascida antes do início da Segunda Guerra Mundial, no seio de uma família pobre, casa-se com um homem de Berlim Leste. Aquando da construção do muro de Berlim, vê a família dividida e entra numa profunda depressão. M. nasceu após a divisão acentuada pela edificação do muro, numa família onde imperavam os valores do socialismo, desconhecendo o mundo ocidental, até lhe ser dada a conhecer outra realidade.

A escrita de Sobral é fluída, muito envolvente, com uma narrativa cativante que prende o leitor do início ao fim. O próprio facto de conciliar romance com diário, herbário, texto espistolar e poesia, torna-a muito interessante, completa e diferente. Gostei e recomendo.

Junior, Itamar Vieira (2023). Salvar o Fogo. Alfragide: Edições Leya.

N.º de páginas: 336
Início da leitura: 14/03/2025
Fim da leitura: 15/03/2025

**SINOPSE**
"Depois de ter ficado órfão de mãe, Moisés vive com o pai e a sua irmã Luzia na Tapera do Paraguaçu, um povoado cujo domínio das terras pertence à Igreja, que ali detém um mosteiro desde o século XVII. Os irmãos partiram todos em busca de uma vida melhor, mas Luzia foi obrigada a ficar para cuidar do pai e do menino; estigmatizada pelos seus supostos poderes sobrenaturais, leva no entanto uma vida de profundo sentido religioso, trabalhando como lavadeira do mosteiro e educando Moisés rigidamente com o objetivo de o inscrever na escola dos padres e conseguir para ele a educação que nenhum deles pôde ter. Porém, a experiência dessa formação marcará o rapaz de tal modo que ele acabará por deixar intempestivamente a casa.

Será só vários anos mais tarde, depois de um grave acontecimento que é o pretexto para a família toda se reunir, que Moisés reencontrará Luzia - uma Luzia arrependida dos silêncios e magoada pelas mentiras, mas simultaneamente combativa, lutando como nunca contra as injustiças, pela posse da terra dos seus antepassados.

Épico e lírico, emocionando o leitor a cada nova página, Salvar o Fogo é um romance que mostra que muitas vezes os fantasmas de uma família não se distinguem dos fantasmas de um país. A ferida aberta pelo multipremiado Itamar Vieira Junior nesta obra-prima só o leitor poderá fechar."

As personagens deste romance vivem no sertão nordestino e são fortemente influenciadas por elementos históricos e sociais que as moldam. A escrita de Itamar Vieira Junior capta a luta interna das personagens e a complexidade das suas emoções e escolhas. A linguagem é sensível, mas também crua e direta, o que transmite o peso da realidade que deseja mostrar.

O romance lida ainda com o tema da ancestralidade e da relação das pessoas com a terra, com a natureza e com os seus próprios passados. Ao explorar essa relação, o autor incita o leitor a refletir sobre questões que ultrapassam as fronteiras do Brasil, como a desigualdade, as injustiças sociais e as diferentes formas de luta.
A narrativa tem um ritmo que mistura a angústia de não poder escapar do próprio destino com uma força silenciosa da resistência, principalmente nas personagens que são impelidas a lutar pela sua sobrevivência, pela sua história e pela sua terra. 

É de uma atualidade marcante, trazendo à tona não apenas as memórias históricas, mas também os dilemas contemporâneos de uma sociedade que luta contra o esquecimento e contra a marginalização. 

Aconselho vivamente!

Lacour, Nina (2023). Yerba Buena. Lisboa: TopSeller.

Tradução: Maria Ferro
N.ºde páginas: 304
Início da leitura:11/03/2025
Fim da leitura: 13/03/2025

**SINOPSE**

"Quando Sara conhece Emilie no restaurante Yerba Buena, a ligação entre as duas é imediata. Mas a bagagem emocional que ambas carregam, bem como o peso das escolhas feitas no passado acabarão por afastá-las. Ao serem confrontadas com tudo aquilo que tentaram deixar para trás, terão de decidir se o amor que as une é ou não mais forte do que os seus passados.

Um livro poderoso e extremamente comovente sobre duas mulheres com um passado traumático que tiveram de ultrapassar vários obstáculos e aprender a conhecer-se a si próprias para encontrarem o seu lugar no mundo."

A história deste livro gira em torno de duas protagonistas, Emilie e Sara, cujas vidas se cruzam de maneiras inesperadas. A autora faz um excelente trabalho ao explorar a complexidade emocional e os desafios pessoais de cada uma delas. A relação entre as duas mulheres é explorada com delicadeza, tornando-se uma das principais forças da narrativa. Além disso, aborda, de maneira sensível, temas como o luto, as feridas emocionais e a tentativa de reconstrução da vida após a perda.

O ambiente de Yerba Buena, uma espécie de refúgio onde as personagens tentam encontrar algum equilíbrio, é bem construído e realista, o que acrescenta uma camada extra de autenticidade e veracidade à história. LaCour faz uso de uma escrita poética, fluida, que proporciona uma leitura imersiva e profunda.

Receava que fosse uma obra "fofinha", o que não se confirmou durante todo o enredo.

Considero, no entanto, que, em alguns momentos, se tornou algo monótona, o que advém do facto de se concentrar nas emoções e dilemas internos das personagens. 

Bruel, Christian (2021). A História da Júlia e da sua sombra de menino. Lisboa: Orfeu Negro.

Tradução: Maria Afonso
Ilustração: Anne Bozellee
N.º de páginas:56
Início e fim da leitura: 10/03

**SINOPSE**
"Diz-me, minha querida, porque não és como toda a gente? Eu não sou como toda a gente, mamã. Eu sou a Júlia! A Júlia não tem modos. A Júlia não é fácil. Uma verdadeira maria-rapaz, queixam-se os pais.

Certa manhã, descobre que tem sombra de menino, mas quem acredita nela? Gentil Júlia, para ser amada deve portar-se como as outras meninas. Gentil Júlia, já não sabe quem é. De rótulos não precisa, mas tão-somente de um abraço.

Um álbum original de 1976, provocante, revolucionário e actual, que nos convida a ver pessoas e não estereótipos."

Neste livro infanto-juvenil, abordam-se temas como a identidade, a solidão, o crescimento, os desafios enfrentados e a incompreensão da sociedade em relação a todos os que pensam ou sentem de outra forma.

A narrativa é envolvente e, ao mesmo tempo delicada, proporcionando uma abordagem emocionalmente rica e acessível. O enredo desenrola-se com uma metáfora poderosa sobre a sombra de menino, que simboliza as múltiplas facetas da identidade e como as relações externas e internas influenciam a perceção de quem somos.

Coben, Harlan (2021). Win. Lisboa: Editorial Presença. 

Tradução: Maria do carmo Figueira
Nº de páginas: 328
Início da leitura: 06/03/2025
Fim da leitura: 08/03/2025

**SINOPSE**
"Os segredos de um homem morto caem nas mãos de Win, um anti-herói em busca de justiça, e levam-no por um caminho muito perigoso.
Há mais de vinte anos, a herdeira Patricia Lockwood foi sequestrada durante um assalto à propriedade da família. Escapou, mas os seus captores também, e as coisas roubadas nunca foram recuperadas. Até agora.
No Upper West Side, um homem é encontrado morto. Ao seu lado, estão dois objetos importantes: um quadro roubado de Vermeer e uma mala de viagem, de pele, com as iniciais WHL3. Pela primeira vez em muitos anos, as autoridades têm uma pista - não só sobre o rapto de Patricia, mas também sobre outro caso que o FBI não conseguiu resolver. o quadro e a mala de viagem apontam para a mesma pessoa.
Windsor Horne Lockwood III - ou Win, como é chamado pelos amigos - não sabe como a sua mala e aquela pintura, que pertence ao acervo da sua família, foram parar junto ao cadáver. Mas, claro, agora já só consegue pensar naquele caso, sobretudo depois de o FBI lhe dizer que o homem que raptou a sua prima esteve envolvido num ato de terrorismo.
Win tem três coisas que o FBI não tem: uma ligação pessoal com o caso, uma enorme fortuna e... a sua visão única de justiça."
Este é um livro muito ao estilo do autor, repleto de suspense e reviravoltas. O livro segue Windsor Horne Lockwood III ("Win"), uma das personagens mais cativantes da série de Coben, que se destaca pela sua personalidade excêntrica, o seu charme e um lado sombrio e implacável. Win, que tem uma vida repleta de privilégios, vê-se enredado num complexo mistério envolvendo um assassinato, uma herança e segredos do passado. O autor explora as questões de justiça, lealdade e vingança, enquanto Win lida com dilemas morais que o forçam a confrontar o seu próprio código ético.
É um livro que entretém e que nos prende do início ao fim, até pela escrita fluida e envolvente de Coben, com as suas reviravoltas inesperadas e um ritmo acelerado. Aconselho para quem aprecia o género.

Jr, William Strunker. A Arte de Saber Escrever, 2ªed., 2025. Lisboa: Alma dos Livros. 

Tradução: Sónia Lopes
Nº de páginas: 136
Início da leitura: 04/03/2025
Fim da leitura: 07/03/2025

**SINOPSE**
"A Arte de Saber Escrever, de William Strunk Jr., é um bestseller internacional, um autêntico manual de estilo para escrever de forma correta e sem erros. Aborda as regras de uso da língua mais importantes, os princípios de redação de qualquer texto, questões sobre estrutura e uma lista de palavras e expressões frequentemente mal-usadas. Oferece ainda conselhos práticos sobre como comunicar de forma mais eficiente e bem-sucedida.

O lema deste livro é: faça com que cada palavra conte! Nunca até hoje um manual para escrever bem foi tão relevante, sucinto e útil. O tom, a sagacidade e o charme únicos continuam a transmitir os princípios fundamentais da escrita a milhões de leitores em todo o mundo.

Será para sempre o melhor guia quando precisar de uma dica para tornar uma frase mais clara ou tiver de ser bem interpretado à primeira. O único livro sobre gramática a aparecer nas listas de bestsellers e que já explicou a milhões de leitores os princípios básicos da língua."
De vez em quando gosto de ler este género de livros, mais técnicos. Este, apesar de técnico, lê-se muito bem por qualquer pessoa. Sempre acompanhado de exemplos que poderão tornar a escrita mais correta e, ao mesmo tempo, mais agradável e fluída para o leitor. A maior parte dos conceitos já conhecia, mas é sempre bom e enriquecedor relembrar. Aconselho a todos.

Castro, Rodolfo (2013). O Último Conto. Lisboa: GATAfunho. 

Tradução: Ana Marques e Ana Paula Faria
Ilustrador: Enrique Torralba
N.º de páginas: 48
Início e fim da leitura: 07/03/2025

**SINOPSE**
"Ninguém se lembrava do dia em que Jacinto havia contado o seu primeiro conto debaixo da árvore. No bairro, dizia-se que sempre estivera ali. Alguns anciãos afirmavam que apenas os contos eram anteriores a ele. E havia ainda quem afirmasse que a árvore, as casas e tudo o resto só existiam porque Jacinto os narrava. Todos acreditavam que os seus contos seriam escutados para sempre"
O livro gira em torno da ideia de despedida, de um "último conto", que pode ser interpretado como o encerramento de um ciclo na vida de alguém ou o fim de uma história significativa. Este "último conto" carrega consigo a ideia de que cada narrativa de vida, cada história pessoal, tem um fim — e que, muitas vezes, estamos diante da dificuldade de aceitar esse fim, seja ele físico, emocional ou existencial.
O autor utiliza a técnica narrativa com maestria, criando um ritmo que alterna entre momentos de introspeção e momentos de tensão. É uma espécie de reflexão sobre a arte de contar histórias, fazendo com que o leitor se questione sobre as narrativas que ele próprio cria na sua vida e o que realmente importa no final de tudo.

Castro, Rodolfo (2015). A Senhora Esqueletal. Vila do Conde: Booklândia.

Ilustração: Paulo Salvador Lopes
N.º de páginas: 32
Início e fim da leitura: 07/03/2025

**SINOPSE**
"Na realidade, cedo ou tarde, as crianças terão que lidar com a perda de um parente, amigo ou animal de estimação. Por que não falar das coisas tristes, se elas existem? E tanto melhor se for com humor e com um contador de excepção que nos prende, cativa e faz rir de qualquer assunto."

A Senhora Esqueletal é uma obra que, à primeira vista, pode parecer uma narrativa sombria e inquietante; mas, à medida que a história se desenrola, ela revela camadas de profundidade psicológica e social que desafiam o leitor a refletir sobre a vida, a morte, a perda e as relações humanas. Estamos perante um tema duro, abordado com grande sentido de humor, o que lhe retira a carga negativa que poderia ter. Prepare-se, pois, para soltar umas gargalhadas.
O enredo parte da história de uma mulher de aparência envelhecida e sombria, que está imersa numa solidão existencial, refletindo sobre as suas escolhas, a sua identidade e o seu lugar no mundo. A escrita de Rodolfo Castro é extremamente vívida, com descrições detalhadas e um estilo direto, que nos coloca na mente da protagonista, levando-nos a entender seus dilemas internos, suas inseguranças e suas tristezas.
Em termos de estilo, a narrativa é envolvente, cheia de tensões emocionais e psicológicas que mantêm o leitor intrigado do início ao fim. O autor não poupa nas questões filosóficas e a obra toca em temas como a morte, a solidão, e o reencontro consigo mesmo, fazendo com que o leitor reflita não apenas sobre a personagem, mas também sobre a sua própria vida e escolhas.

Tan, Shaun (2024). Cigarra. Lisboa: Orfeu Negro.

Tradução: Carla Oliveira

Nº de páginas: 40

Início e fim da leitura: 06/03/2025


**SINOPSE**

"Cigarra trabalha em edifício alto. Dezassete anos. Sem falta. Sem erro. Tac tac tac!

Esta é a história de uma cigarra que trabalha num escritório cinzento. Rodeada por colegas que a tratam mal, com um chefe que não reconhece o seu valor. Ao fim de dezassete anos, a cigarra reforma-se. Sobe as escadas até ao topo do edifício. Chegou a hora de ser livre.

Um álbum misterioso sobre desumanização, poder, felicidade e libertação."

Este livro distancia-se das narrativas convencionais, sendo uma fusão entre ilustração e uma poderosa mensagem de reflexão. A história, que remete para o conto da cigarra e da formiga, explora temas profundos como o trabalho, a procrastinação, o isolamento...
Shaun Tan utiliza uma linguagem visual muito rica e detalhada para contar a história, com ilustrações que captam perfeitamente o estado emocional da personagem principal, uma cigarra que não se prepara para o inverno da sua existência, que dedica grande parte da sua vida a um árduo trabalho, que ninguém reconhece, que se depara com as dificuldades comuns a muita gente: vive "entre as paredes do escritório", nem sempre consegue pagar a renda e, quando chega a idade da reforma, ninguém lhe reconhece uma vida inteira de dedicação exclusiva ao trabalho. "Sem trabalho. Sem casa. Sem dinheiro." 
Uma obra belíssima, que é um convite à reflexão sobre as nossas ações, escolhas e sobre a nossa relação com o tempo e as consequências dessas escolhas. A história é triste, mas também inspiradora, e as suas ilustrações são um verdadeiro deleite para os olhos. Uma leitura que vale a pena, especialmente para aqueles que apreciam narrativas que vão além das palavras.
A forma escrita é como um telegrama - poucas palavras, mas todas com profundo significado, apontando para a passagem rápida do tempo, como o "Tac tac tac", que pode ser do trabalho mecanizado ou de um relógio. Para todas as idades, sendo que a interpretação esperada é diferente consoante a geração de leitores.

Miyashita, Natsu (2025). A Floresta de Lã e Aço. Lisboa: Editorial Presença. 

Tradução: André Pinto Teixeira
N.º de páginas: 200
Início da leitura: 03/03/2025
Fim da leitura: 05/03/2025

**SINOPSE**
"Um romance para todos os que procuram o verdadeiro sentido da vida.

Tomura tem dezasseis anos. A sua vida é, como tantas, uma sequência de dias iguais… até escutar, ao longe, um piano. Tomura está na escola, quando ouve um afinador trabalhar no instrumento. de imediato, a melodia toca-o profundamente, toma-lhe a alma e o coração, e transporta-o para as misteriosas florestas que rodeiam a sua aldeia natal, aninhada nas escarpas de uma montanha. Há bruma, negrume, luz. e há, agora, um rapaz que parece nascer outra vez.

Guiado por três mestres de afinação - um muito humilde, outro muito alegre, e um terceiro mais temperamental - , Tomura está determinado a não largar o que sentiu naquele momento, a aprender, a procurar dentro de si e no piano, diante dele, a música que nunca conhecera mas, afinal, sempre estivera na floresta da sua infância. Serei eu capaz? Conseguirei eu encontrar, de novo, a harmonia nesta floresta de lã e aço?

Passada no Japão rural, esta é uma história reconfortante e mágica sobre a jornada transformadora de um rapaz até ao último destino: o lugar daqueles que procuram, sem cessar, o seu verdadeiro propósito na vida."
Este livro apresenta uma história sensível e tocante, explorando o mundo da música, das emoções e da conexão humana. Natsu Miyashita, com uma escrita delicada e profunda, oferece uma reflexão sobre as complexidades da vida e os desafios enfrentados por aqueles que procuram o equilíbrio entre o seu interior e o mundo ao seu redor.
O protagonista, que ainda não encontrara, durante o estudo secundário, algo com que se identificasse ou por que valesse a pena lutar, fica encantado com um afinador de pianos, que vai consertar o piano do ginásio escolar. O som produzido pelo piano fá-lo sentir o som da própria floresta e pede ao afinador para o ensinar. Este aconselha-o a estudar para afinador numa escola profissional. O jovem segue o seu conselho.
Sente-se sempre inseguro e acha que não está à altura desta profissão, tão exigente e que requer uma sensibilidade, intuito e talento muito grandes.
A escrita de Natsu Miyashita, com toques de poesia, ajuda a criar uma atmosfera envolvente, convidando o leitor a refletir sobre questões existenciais e a complexidade das relações humanas. É um livro para quem gosta de diálogos, divagações, uma vez que a ação decorre com a lentidão que estas exigem. A ação é muito linear, detendo-se mais no crescimento do eu, na procura de si mesmo, nas exigências pessoais e no crescimento de uma paixão pelo piano e pela música clássica. Gostei, mas não adorei. Achei demasiado repetitivo e parado.

Morin, Fabien; Hoptman, Derain (2024). Nascidas Rebeldes. Alfragide: Edicões ASA.

Tradução: Helena Guimarães

Nº de páginas: 144

Início da leitura: 01/03/2025

Fim da leitura: 02/03/2025

**SINOPSE**

"A partir de que idade é que se tem o direito de mudar o mundo?
Seis raparigas, seis percursos notáveis.

Este Romance gráfico, fruto de uma investigação jornalística, revela a história pessoal desconhecida de raparigas fora do comum, comprometidas com os mais nobres combates do nosso tempo.

Não permitindo que a sua idade nem o seu género nem as ameaças as amordaçassem, estas raparigas tornaram-se porta-estandartes de uma geração pronta para dar cabo do fatalismo dos adultos. E se as raparigas estivessem prestes a escrever o nosso futuro?

Uma apologia entusiasmante, desenhada por uma equipa de sonho internacional: Gijé (França),Vittoria Macioci (Itália), Brett Parson (EUA), Jocelyn Joret (França) e Rebecca Traunig (Suíça)."
Este livro é a prova de que a ética, a moral, a cidadania, não têm género nem idade. São-nos apresentadas, em novela gráfica, jovens mulheres que ficaram na história pelos seus atos heróicos, pelas lutas travadas contra a injustiça, contra a destruição do ambiente, pela igualdade de oportunidades: Malala (heroína moderna e pioneira da infância militante, na sua batalha pela educação, pela oportunidade de todas as crianças poderem escolher o seu destino), Greta (uma jovem autista, empenhada na luta pela salvação do planeta, no que concerne ao clima), Yusra (que, juntamente com a irmã, decidiram fugir da Síria em agosto de 2015, tendo conseguido salvar 16 pessoas, quando o bote em que fugiam se virou, luta pelas populações exiladas), Emma (que, após ter estado no massacre da escola de Parland, se distingue na luta pela alteração da Lei que permite porte de arma pelos americanos) e Melati & Isabel (duas jovens irmãs da Indonésia, ativistas climáticas, conhecidas pelos seus esforços para reduzir o consumo de plástico em Bali). Recomendo muito!

Lyons, Annie (2024). O Clube de Leitura Antiguerra. Lisboa: Bertrand Editora.

Tradução: Ana Mendes Lopes
Nº de páginas: 376
Início da leitura: 27/02/2025
Fim da leitura: 02/03/2025

**SINOPSE**
"Uma saga da Segunda Guerra Mundial, nostálgica e reconfortante, sobre a importância do espírito de comunidade durante tempos sombrios, com uma livraria nos subúrbios de Londres como pano de fundo.

Gertie e Harry conheceram-se numa livraria, e foi aí que se apaixonaram. Fundaram a Livraria Bingham em 1911, espaço que, rapidamente, se converteu numa referência local. Nem mesmo Gertie podia antever que, anos mais tarde, a Livraria Bingham se tornaria o último bastião de esperança para toda a comunidade…

Estamos em 1938 e, após a morte de Harry, Gertie Bingham entende que é chegado o momento de vender a preciosa livraria - a dor da sua perda é imensa. Contudo, à medida que o nazismo varre a Europa, há uma necessidade cada vez maior, pelo menos para alguns, de salvar o máximo de crianças judias, e Gertie é persuadida a juntar-se à rede. Quando Hedy Fischer cruza a sua porta, com uma pequena mala de viagem e poucas palavras de inglês, o mundo de Gertie transforma-se. Começa a guerra, que as duas vão enfrentar lado a lado.

A relação é tensa, no início, até que Gertie empresta a Hedy o seu exemplar de Jane Eyre, que lhe tinha sido oferecido por Harry no dia em que casaram. Forma-se então entre as duas uma ligação inscrita no amor pelos livros, e decidem formar o Clube de Leitura Antiguerra, fornecendo aos membros livros para que os leiam durante as investidas aéreas alemãs.

Todos partilham a guerra e as suas agruras durante meses, mas também autores e livros intemporais. Discutem tudo no abrigo da livraria - afinal de contas, um bom livro pode fazer maravilhas para animar pessoas de todas as idades e criar laços, mesmo nos momentos mais difíceis da História."
Este livro desenvolve-se em torno de temas como amizade, superação, e o poder da literatura em tempos de crise, durante a II Guerra Mundial. A história segue a vida de personagens que, através de um clube de leitura, enfrentam os desafios de suas próprias vidas, utilizando os livros como uma forma de escapar e refletir sobre os problemas e dilemas que os cercam.
A autora consegue, de maneira habilidosa, construir personagens cativantes. Cada personagem tem uma narrativa própria e, por meio das discussões literárias no clube, vemos como os livros ajudam a lidar com questões como guerra, perda, e reconstrução da própria vida. Ao longo da história, o tema da guerra, seja no sentido literal ou figurado, é abordado de maneira subtil, mas profunda, trazendo à tona o impacto das experiências traumáticas nas vidas das pessoas.
Em relação à escrita, Annie Lyons apresenta uma narrativa fluida e cheia de empatia, com diálogos que são, ao mesmo tempo, naturais e profundos. A autora consegue equilibrar a leveza das interações quotidianas com momentos de reflexão mais pesados, criando uma dinâmica que mantém o interesse do leitor. 
O livro também é uma excelente reflexão sobre como a literatura pode ser uma ferramenta de resiliência, oferecendo aos leitores, não apenas distração, mas também uma forma de transformação pessoal. O "antiguerra" da história vai além da oposição ao conflito bélico;  abrange também a guerra interna que cada personagem trava, seja com seus próprios sentimentos ou com as dificuldades da vida. Cada capítulo inicia-se com uma passagem de um clássico, o que achei muito interessante. Recomendo.
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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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