Salvar o Fogo, Itamar Vieira Junior

Junior, Itamar Vieira (2023). Salvar o Fogo. Alfragide: Edições Leya.

N.º de páginas: 336
Início da leitura: 14/03/2025
Fim da leitura: 15/03/2025

**SINOPSE**
"Depois de ter ficado órfão de mãe, Moisés vive com o pai e a sua irmã Luzia na Tapera do Paraguaçu, um povoado cujo domínio das terras pertence à Igreja, que ali detém um mosteiro desde o século XVII. Os irmãos partiram todos em busca de uma vida melhor, mas Luzia foi obrigada a ficar para cuidar do pai e do menino; estigmatizada pelos seus supostos poderes sobrenaturais, leva no entanto uma vida de profundo sentido religioso, trabalhando como lavadeira do mosteiro e educando Moisés rigidamente com o objetivo de o inscrever na escola dos padres e conseguir para ele a educação que nenhum deles pôde ter. Porém, a experiência dessa formação marcará o rapaz de tal modo que ele acabará por deixar intempestivamente a casa.

Será só vários anos mais tarde, depois de um grave acontecimento que é o pretexto para a família toda se reunir, que Moisés reencontrará Luzia - uma Luzia arrependida dos silêncios e magoada pelas mentiras, mas simultaneamente combativa, lutando como nunca contra as injustiças, pela posse da terra dos seus antepassados.

Épico e lírico, emocionando o leitor a cada nova página, Salvar o Fogo é um romance que mostra que muitas vezes os fantasmas de uma família não se distinguem dos fantasmas de um país. A ferida aberta pelo multipremiado Itamar Vieira Junior nesta obra-prima só o leitor poderá fechar."

As personagens deste romance vivem no sertão nordestino e são fortemente influenciadas por elementos históricos e sociais que as moldam. A escrita de Itamar Vieira Junior capta a luta interna das personagens e a complexidade das suas emoções e escolhas. A linguagem é sensível, mas também crua e direta, o que transmite o peso da realidade que deseja mostrar.

O romance lida ainda com o tema da ancestralidade e da relação das pessoas com a terra, com a natureza e com os seus próprios passados. Ao explorar essa relação, o autor incita o leitor a refletir sobre questões que ultrapassam as fronteiras do Brasil, como a desigualdade, as injustiças sociais e as diferentes formas de luta.
A narrativa tem um ritmo que mistura a angústia de não poder escapar do próprio destino com uma força silenciosa da resistência, principalmente nas personagens que são impelidas a lutar pela sua sobrevivência, pela sua história e pela sua terra. 

É de uma atualidade marcante, trazendo à tona não apenas as memórias históricas, mas também os dilemas contemporâneos de uma sociedade que luta contra o esquecimento e contra a marginalização. 

Aconselho vivamente!

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