Smith, Ali (2017). Outono. Vialonga: Edição Elsinore.
Tradução:
Manuel Alberto Vieira
Nº de páginas:
224
Início da
leitura: 18/03/2022
Fim da leitura: 21/03/2022
**SINOPSE**
«Ela
percebe-lhe um terrível abatimento nos olhos. Ele percebe que ela o percebe.
Ele põe-se ainda mais severo. Abre uma gaveta, dela retira uma chapa laminada e
coloca-a no balcão. Balcão Fechado. Isto não é ficção, diz o homem. Isto é a
estação dos correios.»
Daniel
tem a idade de um século. Elisabeth, nascida em 1984, está de olho no futuro. O
Reino Unido e a Europa estão despedaçados, divididos por um verão histórico.
Ganha-se amor, perde-se amor. A esperança caminha de mãos dadas com o
desespero. As estações sucedem-se, como sempre, assim como as perguntas: Qual é
o nosso valor? Quem somos? De que matéria somos feitos?
Eis
o lugar em que vivemos. Eis o tempo na sua forma mais contemporânea e naquilo
que tem de mais cíclico.
Eis
uma história sobre o envelhecer e o tempo e o amor e as próprias histórias.
Este é o primeiro livro do quarteto.
Da
imaginação única de Ali Smith nasce uma tetralogia feita a partir da ideia de
transição, abrangente na sua escala temporal e marcada por um caminhar leve
através das suas narrativas.
Eis o Outono.
**OPINIÃO**
Este
não é um livro para todos. Não é um livro fácil. Não é um livro de leitura
rápida, mas é um livro de uma leitura assídua. Não se pode parar a leitura,
porque se corre o risco de nos perdermos. Requer uma predisposição para ler nas
entrelinhas. Diria mesmo que tem muito de prosa poética, muito de divagações,
de vago, de mistério, de mensagens subliminares. A alternância entre o passado
e o presente faz-se sem uma ordem certa, o que acontece em alguns romances onde
há alternância de tempos entre os capítulos. Aqui, podemos estar no passado e,
quando nos apercebemos, já estamos no presente.
A
ação começa no presente, com Daniel, num suposto sonho com a morte.
Elisabeth
tem 32 anos e vê-se vê a braços com a instabilidade
profissional de um contrato sem termo nem horário fixo, a morar no mesmo
apartamento que arrendara ainda estudante. Na estação dos correios onde tenta
atualizar o passaporte, aguarda horas intermináveis e depara-se com todas as
dificuldades e burocracias que isso envolve. Implicam com tudo, até com a
dimensão da fotografia. Elisabeth visita Daniel, um homem com mais de cem anos,
num Lar Hospital.
Entretanto,
ficamos a saber como Elisabeth conheceu Daniel, quando, aos 8 anos, pediu à mãe
para visitarem o vizinho a pretexto de fazer uma entrevista para a escola.
A
partir daí, surge uma amizade muito especial. Uma das primeiras perguntas que
Daniel lhe fez foi sobre o que estava ela a ler. Quando lhe respondeu que nada, ele
referiu "devemos estar sempre a ler alguma coisa. (...) Mesmo que não
estejamos a ler fisicamente. Caso contrário, como seremos nós capazes de ler o
mundo? Imagina o processo como uma constante". E é Daniel que vai
despertar em Elisabeth o gosto pelos livros, pela arte, pela vida, pelo poder da
mente e do sonho, a capacidade de recriar a vida, de a movimentar como um
fantoche.
Apesar de reconhecer que a escritora escreve realmente bem, não foi um livro que me prendeu a uma leitura compulsiva.
0 Comentarios