Afastar-se - treze contos sobre a água, Luísa Costa Gomes

Gomes, Luísa Costa (2021). Afastar-se – treze contos sobre a água. Lisboa: Editorial Dom Quixote.

Nº de páginas: 224

Início da leitura: 03/06/2022

Fim da leitura: 04/06/2022

**SINOPSE**

«Fui coleccionando ao longo de mais de cinco anos contos que de uma maneira ou de outra metem água. Ela está sempre presente, doce, clorada, salgada, mais larga ou mais discreta, no oceano aberto onde se experimenta o abandono e a sobrevivência, no duche redentor que muda em narrativa irónica uma experiência de quase morte, na saliva que prepara a cinza, na piscina adorada que é meio de transmutação alquímica. Será esta colecção, talvez, em arco abrangente, uma reconciliação pela água: um livro termal, se quiserdes. Em muitos destes contos se reivindica o primado da experiência vivida, seja ela de jibóias!, na elaboração formal que lhe faz a vénia. Na vida da água que nos faz sonhar (só de olhar) reconhecemos a nossa própria sobrevida. Mas o lapidar é o lapidar e o que se escreve na água…»

LUÍSA COSTA GOMES

Luísa Costa Gomes venceu, com este livro, o Prémio Literário Casino da Póvoa 2022, o que é bem merecido. Nestas 13 histórias, 3 já publicadas antes e 10 inéditas, há um elo de ligação: a água. Se atendermos à simbologia da água, com efeito, esta perpassa ao longo de todos os contos. A água passa, corre, como corre a vida; por vezes, em margens que a acolhem no seu regaço (que ficam na memória), outras tantas passando e ultrapassando socalcos que a vão tentando impedir de seguir o seu curso natural (dissolvendo). Corre para ganhar uma nova vida ao se fundir com o oceano, ou morrer de encontro ao mesmo. Assim é a vida. Há nestes contos, escritos com grande sabedoria, neste fio condutor de água, o desfiar de memórias, que cada personagem traz com ela. Vidas sedentas de vida, de renascimento, de uma infância perdida…

Depois, temos ainda o convívio de algumas personagens com os livros de Lord Byron, Pirandello, Kiekegaard e outros escritores de que não refere o nome, mas que entrevemos de quem se trata.

Tenho de reconhecer na autora uma escrita exímia, muito trabalhada, numa prosa riquíssima (e até verso) cheia de ritmo, que nos instiga a curiosidade e nos prende.

Confesso que gostaria, em alguns contos, de estar a ler um romance, pois queira mais, queria que continuasse. Mas os contos são assim e o que fica por ler, nas entrelinhas, é também uma forma deliciosa de o leitor continuar as histórias na sua imaginação.

Recomendo!

0 Comentarios