O Meças, José Rentes de Carvalho

Carvalho, José Rentes de (2016). O Meças. Lisboa: Quetzal Editores.


Nº de páginas: 184

Início da leitura: 26/06/2022

Fim da leitura: 27/06/2022

 

**SINOPSE**

Novo romance de Rentes de Carvalho. Uma história de violência, em que a progressiva definição dos contornos da memória trará novas e dolorosas verdades. Romance inédito, nele se conta a história de António Roque, homem atormentado, possesso do demónio de funestas memórias. As imagens do passado que regularmente se apoderam dele transformam-no num monstro capaz dos piores atos. No entanto, a obscura história da irmã e do homem abastado que se servia dela - e que, apesar de morto, continua a instigar-lhe um ódio devastador - não é exatamente como ele pensa que se lembra. Depois de anos emigrado na Alemanha, o Meças regressa à sua aldeia de origem. Com ele vivem o filho (a quem detesta) e a nora (a quem deseja, mas inferniza a vida), atemorizando, de resto, todos os que com ele se cruzam. Uma história de violência, em que a progressiva definição dos contornos da memória revelará novas e dolorosas verdades.

Este é verdadeiramente um livro cru e duro, numa escrita viva, cinematográfica. José Rentes de Carvalho não está com rodeios e aborda questões que marcaram uma época em que a violência, a sordidez e a ignorância andavam de mãos dadas. É um livro que deixa algum amargo de boca, um desassossego, porque mexe com os nervos, com o que consideramos ser o certo ou até o razoável.

A história gira em torno de Meças, que regressa à terra (Vila Nova de Foz Côa), depois de ter sido emigrante na Alemanha (onde troçavam dele por não conseguir aprender a língua e ser um falhado), temido pelo seu caráter cruel, bruto, bebedolas, psicopata, predador que tudo faz vergar ao jugo da sua violência…capaz até de matar, o que torna difícil sentir-se qualquer empatia por ele. Mas os seus atos de crueldade, apesar de não terem qualquer justificação, nascem de uma raiva antiga relativamente a alguém que viu abusar da irmã.

Não será a violência uma forma de não mostrar a cobardia? De camuflar os próprios medos, os monstros interiores? Mas, será que esses monstros, medos e cobardia dão direito a ser um monstro ainda pior? Um monstro que ficará, por longos tempos, a ensombrar os nossos dias, tal o poder das palavras cuspidas de forma visceral no papel e que tão bem representam a personagem que dá nome ao romance.

Este é o retrato de um interiorismo caracterizado pela iliteracia, pelos dramas familiares, pelo culto de uma violência através da qual as personagens se tentam impor, pela falta de valores e de verdadeiros laços entre pai e filho e por muito, muito mais, que é difícil expor por palavras. Só se sente, lendo! Por isso, aconselho a leitura.

 

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