Mitchell, Joseph (1942). O Segredo de Joe Gould. Alfragide: Publicações Dom Quixote. 2017.
Tradução:
José Lima
Nº
de páginas: 208
Início
da leitura: 10/06/2022
Fim
da leitura: 11/06/2022
**SINOPSE**
Salman
Rushdie, Julian Barnes, Martin Amis e Doris Lessing são alguns dos escritores
do mundo literário que, em 1996, quando este livro foi publicado, se fizeram
ouvir chamando a atenção para a sua importância.
Afinal,
quem foi esse Joseph Ferdinand Gould, o cândido e inquietante protagonista
deste livro? Filho de uma das famílias mais antigas de Massachusetts,
licenciado em Harvard, em 1916 rompeu com todos os laços e tradições familiares
e foi para Nova Iorque, onde passado pouco tempo iniciou a sua vida de
vagabundo. Trabalhava e vivia inteiramente para o seu projeto de escrever uma
monumental História Oral do Nosso Tempo.
Ezra
Pound e E. E. Cummings, entre muitos outros, interessaram-se pelo projeto e
chegaram a falar nele nas revistas em que escreviam. Entretanto, Gould dormia
na rua ou em albergues noturnos para mendigos, comia mal e vestia as roupas
usadas que os amigos poetas e pintores de Greenwich Village lhe davam.
Era frequente vê-lo bêbado e imitando o voo das gaivotas, e a sua História Oral, que ninguém lera ainda, gozava já de uma certa reputação. Com a sua morte, em 1957, os seus amigos empreenderam uma vasta busca do famoso manuscrito nos poisos da Village que ele frequentava. É o surpreendente resultado dessa busca, o segredo a que se refere o título, que Joseph Mitchell nos conta na segunda crónica deste livro.
Que
livro fantástico! Como não o li antes?
Joe
Gould é uma personagem muito peculiar, o “último dos boémios”, como ele próprio
se gaba. Vive pela “«trindade dos males»: fome, ressacas e sem-abrigo”. Tem imensa
lata, um sentido de humor diferente e é referido como o Professor, o Gaivota, o
Professor Gaivota, Mangusto, Professor Mangusto ou o Rapaz de Bellevue.” Anda
sempre com uma pasta, que não larga, onde guarda a sua suposta obra literária,
um livro que começou há 26 anos – a História Oral. Segundo ele, terá já “onze
vezes o tamanho da Bíblia”. É um observador, um ouvinte destas histórias, que
refere reproduzir na sua obra. Desdenha dos escritores, poetas, escultores e
pintores da época e o facto de não se coibir de o dizer, esteve na origem de
nunca ter sido admitido como membro de nenhuma organização, nem “em nenhum ismo
artístico”.
“A
História Oral é uma grande salsada e uma salganhada de diz-que-diz, um
repositório de tagarelices, uma miscelânea de boatos, de mexericos, de paleios,
de tretas, de lérias, de zunzuns…segundo os cálculos de Gould, de mais de vinte
mil conversas” escrevinhadas em velhos cadernos e com uma péssima caligrafia,
que só ele entendia.
Não
é um homem simpático, mas tem momentos em que se torna exuberante, sobretudo
com um copito a mais: “…despe-se da cintura para cima e começa uma dança, com
palmas e sapateado, que diz ter aprendido numa reserva Chippewa no Dakota do
Norte…Depois imita uma gaivota (…)” e diz ter traduzido para “gaivotês” uma
série de poemas. Também me surpreendeu a sua teoria de conspiração do tomate. Fartei-me
de rir com este humor fino que vai surgindo ao longo da obra.
O
narrador viu-se envolvido na vida de Joe Gold, ouvindo as suas histórias e,
quando Gold morreu, resolveu e decide procurar a História Oral, escondida pelo
autor em muitos sítios diferentes, de acordo com o que dizia. Mas onde estaria
mesmo a obra de Gould? Que segredo guardava?
Para
o descobrir, terá de ler o livro e garanto que não se arrependerá, antes se
surpreenderá!
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