Filho

(imagem do Google)

Um dia dir-me-ás “Mãe, quero cortar o cordão umbilical! Anseio a minha liberdade, quero viver a minha vida.” E eu ficarei confusa. Por um lado, murmurarei comigo “Está um homem! Faz parte da vida. É o curso natural.” Por outro, gritarei “Não! Como pode ser? Não me dei conta do tempo passar. Cuidei que fosses para sempre o meu pequenino, um pedacinho meu para sempre!” Então, como que olhando por um espelho retrovisor, revejo-te quando nasceste, sinto a emoção do primeiro abraço que te dei; o coração a bater quando te beijei; a ternura com que te vi apertares-me o dedo; a candura dos teus olhos azul-água; a tua terna dependência; o teu caracol no meio da cabeça, tão louro; o teu cheiro a bebé…

Mas tu cresceste, não me mentalizei, não me preparei para o dia em que me pedirias para cortar o cordão umbilical, não consigo ainda digerir que precisarás do teu espaço, do teu tempo.

És um rapazinho sadio, um homenzinho de 15 anos que sabe o que quer da vida, com ambições e sonhos que passam por partir, estudar longe, viver longe, trabalhar longe. Concluo que é mais difícil para mim do que para ti. Quão difícil é ser mãe e saber gerir estes sentimentos! Invade-me um vazio antecipado do futuro. Sei que a vida é assim. Eu também parti! Voltei para acompanhar a minha mãe nos seus últimos anos de vida. Ainda bem que voltei! Graças a Deus que voltei!

Sei que queres a evasão, eu entendo, mas que queres, se toda eu sou emoção? Se sinto que queres sair do álbum de fotografias para viveres a vida? Se queres e precisas deixar o teu quarto, os teus rituais diários, o teu beijo de boa noite, os teus ataques de ternura cheios de beijinhos, o teu miminho no meu rosto para me alegrares?!

Não serei egoísta, mas sou mãe e sinto. Não me peças que não sinta! Sinto em demasia. Por isso te peço, quando partires, leva-me no teu peito e deixa que o teu coração bata por me rever tanto quanto bateu o meu no dia em que nasceste. Não há sentimento mais forte do que o amor de mãe, quando este é puro, genuíno e verdadeiro!

Estarei sempre aqui para te receber de braços abertos, para que cada reencontro seja tão forte como o dia em que te conheci. Estarei sempre contigo nos meus pensamentos, nas minhas orações.

Voa, meu passarinho, quando chegar a tua hora e o teu dia, não tenhas medo de voar! Por muito que me custe, facilitar-te-ei a vida, dar-te-ei o empurrãozinho de que precisas para te atirares em voo aberto em direcção ao futuro. Mas nunca esquecerei o teu olho azul, o teu caracolinho, o teu primeiro sorriso, a gargalhada dobrada, o teu cheirinho…Amo-te muito, meu filho! Como só uma mãe sabe amar!
                                                                                                                                 Célia Gil

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