A Vela Sagrada, Abdulaziz Al-Mahmoud

Al-Mahmoud, Abdulaziz (2016). A Vela Sagrada. Alfragide: Oficina do Livro.

Tradução: Isabel Veríssimo

Nº de páginas: 424

Início da leitura: 03/04/2022

Fim da leitura: 04/04/2022

**SINOPSE**

Pode o amor mudar o curso da História?

  Bin Rahhal, o braço-direito do vizir do Bahrein, era um homem particularmente atraente - e o seu olhar, misterioso e intenso, parecia mergulhar na própria alma. Halima era uma jovem mulher de uma beleza excecional. Alta e esbelta, de olhos brilhantes e longos cabelos negros, uma princesa de Ormuz.

Quando os olhos de ambos se cruzaram, Bin Rahhal ficou enfeitiçado. O rosto da princesa gravou-se na sua mente, e desde então ela nunca mais lhe saiu do pensamento. Mas Halima, ponderada, tentou resistir àquele estranho, de outras terras.

Na Arábia vivem-se tempos de incerteza. Cada vez mais, ouvem-se os rumores de avistamentos de navios com as velas brancas com a Cruz de Cristo. A chegada dos portugueses ao Oriente, que põe em evidência as diferenças culturais, ameaça pôr fim ao modo de vida árabe e mudará de forma drástica a história de amor entre Bin Rahhal e Halima.

**OPINIÃO**

Não sou apreciadora de romance histórico puro e duro, mas gosto de boas contextualizações históricas das narrativas. E essa contextualização é muito interessante neste romance. No fim do século XV e início do séc. XVI, temos as viagens marítimas para a Índia em busca de um novo mundo, riquezas (especiarias, ouro…), vias marítimas que permitissem apostar no comércio marítimo.

O que nos traz de novo este livro é a perspetiva destas viagens de descoberta, iniciadas com Cristóvão Colombo, por parte dos indianos. Éramos vistos como um povo invasor, que se impunha, que impunha a sua religião, não aceitando outras culturas. É desta forma que os Jabrid, apesar de terem tentado fazer face à invasão portuguesa, acabam por ser derrotados, dando por terminado o seu reinado.

Tudo começa com a partida dos portugueses, em 1486, de Lisboa, num momento em que Portugal passava por uma crise agravada por longas guerras com Espanha. Foi por esta altura que surgiu a ideia da Vela Sagrada, o Oriente.

Os métodos dos portugueses para subjugar o Oriente são questionados. Si Al-Tayeb, que terá vivido em Portugal, conta como os portugueses os impediam de praticar a sua fé e tradições, e ainda confiscaram as suas terras, tiraram as crianças à sua fé e educaram-nas como católicas, acabando por os expulsar para o Norte de África. Os portugueses incendiaram os navios em que os adultos seguiram, depois de lhes terem retirado as crianças. Si Al-Tayeb referiu ainda que fariam o mesmo na Índia, até se apoderarem de tudo.

Por meio de todos estes conflitos e outros que vão surgindo e a chegada dos portugueses, temos a história de amor de Bin Rahhal e Halima que, sem ser lamechas, nos comove, sendo muito fácil gostarmos destas personagens. Sobreviverá esta relação às traições, interesses, motivações passionais e outras?

Gostei bastante deste livro, sobretudo porque me fez questionar esta ambição que sempre tivemos em descobrir novos mundos, novas rotas de riqueza, imposição da religião, toda a violência, as mortes, os crimes que estiveram por detrás das "grandiosas conquistas"...

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