Gente Ansiosa, Fredrik Backman

Backman, Fredrik (2022). Gente Ansiosa. Lisboa: Porto Editora.      

Tradução: Elsa T. S. Vieira

Nº de páginas: 368

Início da leitura: 08/04/2022

Fim da leitura: 10/04/2022

**SINOPSE**

Visitar um apartamento que está à venda não costuma redundar numa situação de perigo. A menos que seja antevéspera de Ano Novo, e um ladrão inexperiente tenha decidido assaltar um banco onde não há dinheiro. Quando assim é, torna-se inevitável que não haja sequer um plano de fuga, e se acabe com uma data de reféns acidentais.

Felizmente, podemos confiar na pronta intervenção das autoridades. A menos que os dois polícias responsáveis pelo caso não se entendam nem saibam o que fazer.

Ainda assim, acreditamos que tudo correrá bem, em particular se os reféns permanecerem calmos. A menos que sejam os reféns mais idiotas de todos os tempos: uma analista bancária com ideias suicidas, uma adorável velhinha com motivações pouco transparentes, um casal reformado com uma paixão enorme pelo IKEA, duas recém-casadas, prestes a serem mães, que andam sempre às turras, uma agente imobiliária com entusiasmo a mais e talento a menos, e uma pessoa vestida de coelho.

Com um sentido de humor excecional, que cativou milhões de leitores em todo o mundo, e personagens tão imperfeitas quanto tocantes, Fredrik Backman volta a surpreender com esta história sobre gente idiota e ansiosa e os laços invisíveis que (n)os unem.

Gosto tanto da escrita de Backman! Surpreende sempre, pelos momentos de reflexão, pelas considerações banais que nos perpassam a todos pela cabeça, pela forma original como escreve e pelo sentido de humor tão peculiar e único. Não deixa de abordar temas pertinentes, mas cria para a história personagens surpreendentes, que aligeiram o tema, sem o desprestigiar ou desvalorizar. O tema principal deste livro, por entre outros, é o do suicídio, que marca as pessoas que assistem, que ignoraram os avisos, para sempre. Deixa, inclusive, no fim, o número da linha SOS voz amiga de apoio emocional e de prevenção do suicídio.

Outra das características de Backman é prender-nos à história desde as primeiras linhas. É impossível ficar-se indiferente quando nos diz “Esta história é sobre muitas coisas, mas acima de tudo é sobre idiotas. Assim, é preciso dizer desde já que é sempre muito fácil declarar que os outros são idiotas, mas apenas se esquecermos como é difícil sermos humanos. (…) Porque, hoje em dia, é preciso lidar com uma quantidade inacreditável de coisas. Temos de ter um emprego, um sítio para viver e uma família, e temos de pagar impostos e ter roupa interior lavada e saber de cor o raio da password do wi-fi. Alguns de nós nunca conseguem controlar o caos por completo…” Este é o início de tudo, o desenlaçar de um dos muitos nós que, ficando soltos, tentamos, sem sucesso, voltar a apertar. A partir de certa altura, é quase incomportável viver com tantos laços soltos…A sociedade atual cria pessoas ansiosas e não é fácil lidar com ansiedade, saber parar, refletir e mudar.

As personagens são caricatas e caricaturas da nossa sociedade atual, com as suas inseguranças (“Com o tempo, apercebeu-se de que, no fundo, quase toda a gente faz a si própria as mesmas perguntas: sou bom? Alguém se orgulha de mim? Sou útil à sociedade? Sou competente no meu trabalho? Generoso e atencioso? Um amante decente? Alguém me quer como amigo? Tenho sido um bom pai? Sou boa pessoa?), os seus medos, as suas certezas (que de certas nada têm).

E, como diz o ditado popular, “a brincar a brincar se dizem as verdades” ou “a rir se corrigem os costumes” (Gil Vicente), é a brincar que Backman vai falando e fazendo refletir sobre assuntos muito sérios. E quão importante é, por vezes, fazermos uma pausa para refletirmos sobre estas questões! Estamos cada vez mais longe do “aproveita a vida” (“carpe diem” de Horácio – Livro I, de Odes) e não aproveitamos realmente todos os momentos que a vida nos oferece, perdidos numa vida em que corremos atrás de uma perfeição que não existe, numa sociedade que exige cada vez mais de cada um, a viver num ritmo alucinante, a correr contra o tempo.

Aconselho muito a leitura deste livro!

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