Esse Cabelo, Djaimilia Pereira de Almeida

Almeida, Djaimilia Pereira de (2015). Esse Cabelo. Alfragide: Teorema.

Nº de páginas: 160

Início da leitura: 04/04/2022

Fim da leitura: 05/04/2022

** SINOPSE**

O que se passa por dentro das cabeças é mais importante do que o que se passa por fora? Falar de cabelos é sempre uma futilidade? Não necessariamente, até porque, segundo a narradora deste texto belo e contundente, «escrever parece-se com pentear uma cabeleira em descanso num busto de esferovite» e visitar salões é uma boa forma de conhecer países, de aprender a distinguir modos e feições e até de detetar preconceitos.

Esta é a história de uma menina que aterrou despenteada aos três anos em Lisboa, vinda de Luanda, e das suas memórias privadas ao longo do tempo, porque não somos sempre iguais aos nossos retratos de infância; mas é também a história das origens do seu cabelo crespo, cruzamento das vidas de um comerciante português no Congo, de um pescador albino de M’banza Kongo, de católicas anciãs de Seia, de cristãos-novos maçons de Castelo Branco - uma família que descreveu o caminho entre Portugal e Angola ao longo de quatro gerações com um à-vontade de passageiro frequente. E, assim, ao acompanharmos as aventuras deste cabelo crespo - curto, comprido, amado, odiado, tantas vezes esquecido ou confundido com o abismo mental -, é também à história indireta da relação entre vários continentes - a uma geopolítica - que inequivocamente assistimos.

**OPINIÃO**

É incrível como uma história em torno de um cabelo pode ser tão reveladora. Muito bem escrito, desafiante porque é uma narrativa de que é preciso ir desfazendo nós, desembaraçando, para que se possa apreciar por completo.

À medida que a protagonista, a própria autora, vai visitando salões de cabeleireiro, fugindo dos que lhe estragam o cabelo e ficando dececionada por um certo cabeleireiro ter fechado, quando era dos poucos que sabia lidar (por pouco que fosse) com a sua rebeldia capilar, vai-nos dando a conhecer a história da sua família, desde a sua vinda de Luanda, com apenas 3 anos, a sua procura de identidade e de raízes, ela que se sente mais portuguesa do que muitos portugueses e para quem as memórias se encontram a uma distância que as desfoca e as fragmenta. E que espaço melhor para se conhecer as pessoas, que um salão de cabeleireira?  

É um livro que traz a lume o preconceito, a necessidade de alisar o cabelo para encaixar nos padrões criados por uma sociedade preconceituosa e muito “lisinha” de espírito.

Recomendo a leitura deste livro para quem tem paciência para uma leitura mais lenta, para quem gosta de desfrutar de uma boa escrita e de uma linguagem literária.

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