Gonzaga, Manuela (2014). Moçambique. Lisboa: Bertrand Editora.
Nº de páginas:
360
Início da leitura:
12/08/2022
Fim da leitura:
14/08/2022
**SINOPSE**
O
que é que se tinha passado, e porquê? E porque é que tudo aconteceu como
aconteceu?
Esse
trabalho começou agora a ficar concluído, pois, à medida que ajudei a levantar
as névoas que ocultam o passado aos olhos da minha mãe, pude afastar algumas
névoas da minha ignorância. Mas, e acima de tudo, este relato é uma grande
história de amor. A nossa, da mãe e minha, e a de todos, ou quase todos, os que
por ali tiveram o privilégio de passar.
Uma inolvidável história de amor por Moçambique de que não queremos abrir mão, porque ninguém dispensa uma luz que, de tão forte, ainda continua a cobrir-nos de bênçãos.
Adoro
a escrita de Manuela Gonzaga, flui de forma elegante, abordando temáticas
historicamente bem fundamentadas, o que resulta de um árduo trabalho de
pesquisa.
Neste
livro, que Manuela quis dedicar à mãe, para esta “se lembrar como foi”, aborda,
de forma autobiográfica a viagem com a família para Moçambique, a estadia em
vários pontos de Moçambique e mesmo, no fim, em Angola, os momentos de estudo,
o convívio com as amigas, a emancipação, os lugares – sobretudo as cidades, já
tão desenvolvidas para a época, como Lourenço Marques, explicando o motivo da
atribuição desta toponímia à cidade, de uma forma que nos dá vontade de ir para
lá, mas naqueles tempos, porque nenhum deste locais será o que já foi. Eu, que
vim de Angola, compreendo o que a narradora nos conta, reconheço formas de
vida, dificuldades e, sobretudo, os excelentes momentos de convívio. Mas,
claro, nem tudo foram rosas e a guerra é também um tema que não poderia deixar
de estar presente, se bem que não se lhe dê o destaque que tornaria a obra mais
dura e dramática.
Não
foi um livro que li num ápice, pois, ao aflorarem-me memórias decorrentes da
leitura, vi-me, muitas vezes, perdida nos meus próprios pensamentos, nas minhas
memórias, a calcorrear a fazenda dos meus avós, com os meus amigos negros, a ir
à praia com o meu pai, onde fazia uma pausa para beber uma Seven Up, os jantares
em Luanda, com montes de família e amigos onde, no fim, fazíamos uma caminhada
até à geladaria perto de uma rotunda, de que já não sei precisar o nome, que tinha todos os sabores de gelado inimagináveis. O cinema na praia, onde, por
detrás do ecrã, o mar continuava a espreitar-nos, os banhos de mangueira no
jardim, os fartos almoços de domingo em casa dos avós, a minha mãe a costurar
calças para o meu pai poder prosseguir os estudos… Que momentos bons!
Só
pelo facto de me ter transportado a esses momentos que guardo no coração, já
valeu a pena ter lido este livro, que recomendo. Muito bem escrito!
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