Lições de Química, Bonnie Garmus

Garmus, Bonnie (2022). Lições de Química. Alfragide: Edições ASA.

Tradução: Elsa T. S. Vieira

Nº de páginas: 464

Início da leitura: 15/08/2022

Fim da leitura: 17/08/2022

SINOPSE

Elizabeth Zott não é uma mulher comum. Aliás, Elizabeth Zott seria a primeira a dizer que a mulher comum não existe. Mas estamos no início dos anos sessenta e a sua equipa de trabalho no Instituto de Pesquisa Hastings é exclusivamente masculina. Elizabeth pode ter sido uma das melhores alunas do curso de Química (foi), mas todos os colegas esperam que seja ela a ir buscar cafés ou fazer fotocópias (não será). Há, porém, uma exceção: Calvin Evans, um jovem brilhante que se apaixona por ela. Entre eles, a química é a sério.

Mas tal como na ciência, a vida nem sempre segue uma linha reta. Anos mais tarde, Elizabeth é mãe solteira e a estrela relutante do programa de culinária mais amado da América, o Jantar às Seis. A sua abordagem à cozinha é extravagante ("combine uma colher de sopa de ácido acético com uma pitada de cloreto de sódio") e revolucionária (mais do que apresentar receitas, ela está a incentivar um número crescente de mulheres a desafiar o mundo). A sua popularidade irrita muita gente.

Longe dos holofotes, Elizabeth também usa a ciência para alimentar o corpo irrequieto e a mente subversiva da filha de quatro anos, Madeline, bem como o espírito crítico de Seis e Meia, o cão. Mas o seu destino parece eternamente adiado. Conseguirá ela cumprir o que em tempos um grande amor profetizou num sussurro?

Elizabeth Zott, ainda vais mudar o mundo.

Que livro fantástico! Gostei do livro no seu todo: na forma como está escrito – linguagem fluída e com uns apontamentos de humor muito bem tirados, a história em si, que nos fala de assuntos realmente sérios, que, apesar de ainda não estarem totalmente extintos no século XXI, nos anos 60 eram mais acentuados: a desigualdade de género em relação à forma como a mulher deveria agir, vestir, falar, até à profissão exercida. Na altura, era impensável uma mulher dedicar-se à química, a ponto de a protagonista, na empresa para a qual trabalhava, nunca ser retratada como mulher perante os investidores, pois supunha-se que os investimentos cessariam logo. Outra questão prende-se com a forma como a mulher era abordada no emprego pelos seus superiores homens, que se impunham pelo sexo e pelo assédio. Outra temática, a religião, era impensável uma pessoa assumir-se como ateia (que é o caso da protagonista), sem ser imediatamente enxovalhada e julgada. As raízes familiares e o casamento eram instituições que se impunham como fundamentais, e, havendo filhos, estes eram logo relegados a meros filhos ilegítimos. Mostra ainda como as pessoas eram cruéis nos seus julgamentos.

Porém, este livro é genial também pelo facto de mostrar, através de Elizabeth Zott, a protagonista, que a mulher não tem de ceder, precisa impor-se nesta sociedade desinformada, acabando por chegar às pessoas através do seu amor pela química, do incentivo à luta pelos sonhos por parte das mulheres, mesmo que os maridos se oponham. Se querem ser médicas, cientistas e desenvolver as profissões designadas como de homens, só precisam de acreditar em si e lutar por isso, sem se deixarem prender pelos preconceitos.

As personagens são admiráveis: Elizabeth Zoot, a cientista; a filha Madeline, uma criança que lê desde muito nova, dotada de uma inteligência muito acima da média; o pai Calvin Evans, um cientista de renome, muito pouco atraente fisicamente, mas que partilha a verdadeira química do amor com Elizabeth; Harriet, uma vizinha que se torna numa preciosa amiga de Elizabeth, marcada por um matrimónio do qual não se consegue libertar devido à crença religiosa em relação ao matrimónio, ainda que o marido alcoólico lhe infernize a vida; o padre Wilson, que vai adquirir um papel importante na narrativa e o cão Seis e Meia, um cão muito esperto, que reconhece imensas palavras.

Sobre a história não falo, esperando que se deliciem como eu me deliciei. Aconselho sem reservas!

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