Naufrágio, João Tordo

 Tordo, João (2022). Naufrágio. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 320
Início da leitura: 12/08/2024
Fim da leitura: 13/08/2024

**SINOPSE**
"O novo romance de João Tordo conta-nos a história de um homem à deriva, enredado nos seus fantasmas e obrigado a enfrentar a mais terrível das acusações.

Aos sessenta anos, o romancista Jaime Toledo enfrenta vários problemas. Não escreve há uma década, foi diagnosticado com cancro e, de repente, dá por si no epicentro de um escândalo. Escritor de renome em Portugal, a polémica lança-o para o abismo - sem carreira, sem dinheiro e sem casa, com os livros a ganhar pó nos armazéns, depois de banidos pela sua editora, toma uma decisão radical: deixar tudo para trás e mudar-se para um barco decrépito, fundeado nas docas de Lisboa. É no Narcisse - um minúsculo barco mágico -, na companhia de uma velha guitarra e de um cão chamado Sozinho, que Jaime procurará devolver o sentido à sua vida, reconciliando-se com o passado: as relações conturbadas com as mulheres, o abandono da escrita, a culpa que o corrói.

Até que, um dia, a aparição de uma figura do passado mudará tudo, desviando a narrativa para um lugar inesperado. Estará nas mãos de Jaime decidir se este naufrágio é o fim ou um caminho para algo novo.

Naufrágio é um corajoso romance sobre o amor e as relações entre os sexos, uma reflexão sobre a memória e a culpa, e as linhas difusas que definem as fronteiras pessoais, sociais e morais. Através de Jaime Toledo, João Tordo traça o perfil de um homem em busca da redenção possível, num mundo mais rápido a julgar do que a refletir, e onde é mais fácil condenar do que estender a mão."
Este romance de personagem é realmente bom. 
Um escritor, Jaime Toledo, vê a sua vida virada do avesso quando é acusado, por várias das mulheres com quem se envolvera, de assédio. Este facto torna-o uma "persona non grata", como escritor e como homem. Vê-se, assim, sujeito a ir definhando e anulando o seu eu, num barco onde passa a viver. Aí se alheia e esconde do mundo, dos olhares acusatórios, da própria vida, vivendo o dia-a-dia com o mínimo possível e passando os dias a refletir sobre toda a sua vida - da fama à destruição. O barco, decrépito, como ele, seria o local mais natural para o naufrágio do protagonista. Esta é uma visão do outro lado do movimento #MeToo, que teve uma grande projeção nos meios de comunicação. Não colocando em causa o valor do movimento contra o assédio sexual, Tordo aborda o "outro lado", o do acusado e da destruição a que este movimento pode sujeitar, com um julgamento em praça pública, sem ouvir o outro lado. Uma questão que não deixa de ser polémica. Aconselho!

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