Couceiro, Rui (2024). Morro da Pena Ventosa. Porto: Porto Editora.
Nº de páginas: 384
Início da leitura: 14/11/2024
Fim da leitura: 16/11/2024
**SINOPSE**
"O morro da Pena Ventosa fica lá no cimo, nesse Porto antigo, onde dizem que nasceu a cidade. No morro da Pena Ventosa, as casas encavalitam-se umas nas outras e nelas sobrevivem a custo os velhos moradores, aqueles que construíram a invicta e que o turismo e a modernidade vão empurrando para os subúrbios. No morro da Pena Ventosa, são as gentes que dão o colorido às vielas escuras aonde o sol quase não chega e onde subsiste a memória coletiva de um povo que se diz tripeiro. E é no morro da Pena Ventosa que vivem as personagens deste livro, a Beta e a avó, a D. Lisete e o Dr. Belarmino, o Navalhadas e o Fulminantes, o Luís Miguel Ideias e O-da-Pastinha, nessa janela com vista para o Douro. Ou assim é até a narradora nos trocar as voltas.
Ficção e realidade entretecem-se habilmente nas mãos de Rui Couceiro, que habita o universo do realismo mágico como se aí tivesse a sua morada. Repleto de personagens ímpares e de grande fulgor imaginativo, este livro não só é uma ode à cidade do Porto e ao rio que a banha, mas às suas gentes. Tocando temas como a gentrificação, as alterações climáticas e a perda, claro, Rui Couceiro consolida neste seu segundo romance tudo o que Baiôa sem Data para Morrer já prometia."
É tão difícil falar de um livro quando ele é tão, mas tão bom como este! Devo enumerar as razões que me levaram a classificar este como um dos melhores livros que li, até à data, este ano:
1.º Este livro pegou-me na mente e levou-me numa visita guiada ao Porto (onde vivi 5 anos), avivando memórias de ruas, de cheiros, de gentes e dando-me a conhecer outros tantos lugares, que me poderão ter passado despercebidos, mas que, numa próxima oportunidade, irei visitar.
2.º A premissa inicial cativa-nos de imediato: uma idosa, portuense de gema, comprou o seu caixão, que se encontra em sua casa e onde se deita com duas almofadas para escrever e nos levar a entrar no seu mundo tão íntimo, tão pessoal, tão cativante! Também ela nos leva pela mão a conhecer o seu passado. Senti-me lá, a vivenciá-lo. Haverá melhor que isso?
3.º As personagens são tão bem trabalhadas, que parece que já me cruzei com elas, algures na cidade do Porto. São personagens tão bem trabalhadas, que nos parecem verosímeis.
4.ºHá, ao longo de toda a obra, um sentido de humor refinado, que nos faz sorrir.
5.ºA crítica a determinadas alterações que têm vindo a ser feitas na cidade do Porto surge com uma força subtil. Mas está lá tudo!
6.ºAs referências literárias, como Brás Cubas, Ivan Ilitch, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, entre outros.
7.ºA escrita de Rui Couceiro é excelente: desde os regionalismos e o coloquial, a uma escrita literária, muito bem trabalhada.
8.ºO ritmo de escrita leva-nos a querer ler o livro de um só fôlego. Não o fiz, porque quis usufruir plenamente de todos os pormenores que, de outra forma, me poderiam escapar.
Recomendo muito!
0 Comentarios