A Boneca de Kokoschka, Afonso Cruz

Cruz, Afonso (2018). A Boneca de Kokoschka. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 280

Início da leitura: 01/05/2022

Fim da leitura: 01/05/2022

*SINOPSE**

O pintor Oskar Kokoschka estava tão apaixonado por Alma Mahler que, quando a relação acabou, mandou construir uma boneca, de tamanho real, com todos os pormenores da sua amada. A carta à fabricante de marionetas, que era acompanhada de vários desenhos com indicações para o seu fabrico, incluía quais as rugas da pele que ele achava imprescindíveis. Kokoschka, longe de esconder a sua paixão, passeava a boneca pela cidade e levava-a à ópera. Mas um dia, farto dela, partiu-lhe uma garrafa de vinho tinto na cabeça e a boneca foi para o lixo. Foi a partir daí que ela se tornou fundamental para o destino de várias pessoas que sobreviveram às quatro toneladas de bombas que caíram em Dresden durante a Segunda Guerra Mundial.

Como em todos os seus livros, Afonso Cruz presenteia-nos, mais uma vez, com a sua prosa poética. Além disso, é um livro repleto de personagens muito sui generis. A título de exemplo, temos o homem que tem reticências na cabeça e que olha para tudo com o deslumbramento de uma primeira vez; temos o jovem Isaac que se esconde de uma perseguição nazi numa loja de pássaros, em Dresden; a história verídica de Oskar Kokoschka, que, abandonado pela mulher amada, decide fazer uma boneca à sua semelhança, que leva para todo o lado (até ao teatro) e que, a certa altura, a deita fora; o homem que encontra a boneca no lixo e considera que é uma deusa; Adela é uma personagem que procura desenterrar o passado e acaba por descobrir que a avó, sem saber, mantivera relações com um sobrinho. Mas o que parecem personagens de histórias desligadas entre si, num enviesado labirinto, acaba por não ser bem assim. A certa altura, percebemos que há entre elas uma ligação. E não posso dizer muito mais, pois a ligação entre estas personagens tem de ser feita pelo leitor.

A guerra é o pano de fundo nas várias histórias, que nos vão sendo magistralmente contadas, quer na fase da guerra propriamente data, quer no pós-guerra.

Apesar de não ser dos livros que mais gostei de Afonso Cruz, tenho de reconhecer a qualidade literária do autor, a subtileza metafórica da linguagem, a riqueza da mensagem que transmite.

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