Torto Arado, Itamar Vieira Junior

Junior, Itamar Vieira (2018). Torto Arado. Alfragide: Leya.

Nº de páginas: 280

Início da leitura: 07/05/2022

Fim da leitura: 09/05/2022

**SINOPSE**

Prémio Leya 2018

Prémio Oceanos 2020

Um livro comovente que traz a herança dos clássicos

Bibiana e Belonísia são filhas de trabalhadores de uma fazenda no Sertão da Bahia, descendentes de escravos para quem a abolição nunca passou de uma data marcada no calendário. Intrigadas com uma mala misteriosa sob a cama da avó, pagam o atrevimento de lhe pôr a mão com um acidente que mudará para sempre as suas vidas, tornando-as tão dependentes que uma será até a voz da outra.

Porém, com o avançar dos anos, a proximidade vai desfazer-se com a perspetiva que cada uma tem sobre o que as rodeia: enquanto Belonísia parece satisfeita com o trabalho na fazenda e os encantos do pai, Zeca Chapéu Grande, entre velas, incensos e ladainhas, Bibiana percebe desde cedo a injustiça da servidão que há três décadas é imposta à família e decide lutar pelo direito à terra e a emancipação dos trabalhadores. Para isso, porém, é obrigada a partir, separando-se da irmã.

Numa trama tecida de segredos antigos que têm quase sempre mulheres por protagonistas, e à sombra de desigualdades que se estendem até hoje no Brasil, Torto Arado é um romance polifónico belo e comovente que conta uma história de vida e morte, combate e redenção, de personagens que atravessaram o tempo sem nunca conseguirem sair do anonimato.

Torto Arado conta a história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, filhas de um curador, Zeca Chapéu Grande. Designados como quilombolas, descendentes de escravos, vivem numa roça no sertão da Bahia. Apesar de já não serem escravos, vivem como tal, uma vez que, apesar de terem uma casa e um pedaço de terra para trabalhar, nada lhes pertence, continuando a ter de dar parte do que cultivam ao dono da fazenda. Um trabalho árduo numa terra nem sempre fértil.

A vida das duas irmãs sofre uma transformação quando, certo dia, ao remexerem numa mala da avó, que ela guardava debaixo da sua cama, acabam por mexer no que não devem, magoando-se. Este acidente vai uni-las ainda mais, como se passassem a ser uma só. Pelo menos até à adolescência.

Destaco a forma como é abordada a figura feminina, que sobrevive a toda a violência e opressão pela sua força e coragem.

De referir, também, a forma como o autor escreve, numa linguagem límpida, mas que comove e, qual arado, se adentra das mentes mais sensíveis a estas questões humanitárias. Mas, para além do amargor que advém da rudeza, da miséria e da insegurança que tão presentes estiveram na vida destas personagens, fica-nos uma lição de coragem e de resiliência, Bem como o conhecimento da sua história, cultura, sociedade e formas de pensar.

Recomendo vivamente!

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