O Deserto dos Tártaros, Dino Buzzati

Buzzati, Dino (2021). O Deserto dos Tártaros. Lisboa: Cavalo de Ferro Editores.

Tradução: Maria Periquito

Número de páginas: 232

Início da leitura: 09/05/2022

Fim da leitura: 12/05/2022

**SINOPSE**

«Um dos romances mais importantes da história da Literatura mundial.» — Umberto Eco

Recém-nomeado oficial, Giovanni Drogo é destacado para a inóspita Fortaleza Bastiani, situada no limite do deserto, outrora reino dos míticos Tártaros. Uma vez lá chegado, Drogo é contaminado pelo clima heróico e ávido de glória que parece petrificar, numa espera perene, oficiais e soldados. Passam-se meses e anos, devorando juventude e sonhos. Todos aguardam o dia em que os inimigos virão do Norte e a guerra terá início.

Uma das obras-primas do século XX, que projetou a fama internacional de Buzzati, O Deserto dos Tártaros foi publicado em 1940 e adaptado ao teatro por Albert Camus e ao cinema, num filme de culto realizado por Valerio Zurlini.

Gostei imenso deste livro, do seu poder simbólico, da forma como está escrito, da mensagem transmitida. De tudo!

Quanto a mim, é uma história de esperança, mas também de medo de enfrentar novos desafios. A esperança é o que move o protagonista e o leva a deixar tudo por algo em que acredita. Quando se depara com a fortaleza abandonada, o impulso imediato é o de regressar a casa. Mas há algo naquele lugar inóspito que prende.

Depois, vem a perseverança, ainda que, naquele local, o tempo deixe de ter um real valor, é como se não dessem pela passagem dos dias.

Finalmente, há uma habituação, torna-se normal estar ali. De realçar que, apesar de o protagonista ter sempre acreditado que, mais tarde ou mais cedo, a guerra viria, acabou por se deixar contagiar pela inércia, pela calmaria dos seus dias (ainda que sempre em vigilância), os atos mecanizados. Essa inércia pode, com efeito, tornar-se numa forma de comodismo, que é mais fácil do que enfrentar novos desafios.  Como dizia Saramago no «Conto da Ilha Desconhecida», "Disseram-me que já não há ilhas desconhecidas, e que, mesmo que as houvesse, não iriam eles tirar-se do sossego dos seus lares e da boa vida dos barcos de carreira para se meterem em aventuras oceânicas, à procura de um impossível, como se ainda estivéssemos no tempo do mar tenebroso". É esta inércia, esta falta de crença que se vai apoderando do homem resignado. A mecanização dos hábitos, acaba por gerar formas diferentes de estar e de encarar os desafios. Cito ainda a propósito desta ideia uma estrofe do poema "O Quinto Império" de «A Mensagem» de Fernando Pessoa:  "Triste de quem vive em casa,/Contente com o seu lar,/Sem que um sonho, no erguer de asa,/Faça até mais rubra a brasa/Da lareira a abandonar!". Contudo, considero, e para finalizar, que, o protagonista parte em busca dos seus sonhos, acredita até ao fim na luz que surgirá do lado de lá daqueles morros, por isso mesmo, saliento o seu grande espírito de resiliência.

Aconselho vivamente a leitura deste livro. É fantástico!

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