A Cadela, Pilar Quintana

Quintana, Pilar (2021). A Cadela. Alfragide: Publicações Dom Quixote.



Tradução: Pedro Rapoula

Nº de páginas: 128

Início da leitura: 29/05/2022

Fim da leitura: 30/05/2022

**SINOPSE**

Na costa da Colômbia virada ao Pacífico - num lugar onde a paisagem luxuriante contrasta com uma pobreza extrema e o homem é uma migalha diante da força dos elementos - vive Damaris, uma negra com cerca de 40 anos que toda a vida quis ser mãe. A sua relação com o marido tornou-se, aliás, fria e turbulenta à medida que o casal foi sacrificando tudo o que tinha à obsessão de Damaris e, apesar disso, ela nunca conseguiu engravidar.

Mas a vida desta mulher frustrada parece encontrar uma réstia de esperança no dia em que adota a última cadelinha de uma ninhada. Só que, tal como os filhos nem sempre correspondem às ambições que os pais têm para eles, Chirli também não será a cadela com que Damaris sonhou.

Esta é uma novela brilhante sobre a maternidade, a traição, a lealdade, a culpa, e também sobre a relação enigmática e por vezes excessiva entre os donos e os seus animais. Uma história narrada pela voz confiante e madura de uma escritora que viu o seu livro ser traduzido em mais de uma dezena de línguas e chegar à final do National Book Award nos EUA.

Não é fácil falar deste livro, não só por ser um livro pequenino, mas também porque é um livro tão intenso, no seu todo, que se torna difícil falar sem entrar em pormenores.

Damaris sempre quis ser mãe, mas os anos vão-se passando e nem com mezinhas e bruxedos consegue engravidar. Aos 40, idade em que ouvia dizer que as mulheres secam, já não tinha esperanças de o conseguir. Esta situação humilha-a enquanto mulher (vista como uma forma de procriar). É aí que surge a possibilidade de adotar uma cadelinha, à qual dá o nome de Chirli, o mesmo que teria dado a uma filha. Canaliza para a sua relação com a cadela todas as suas frustrações, criando laços de afeto que nunca tinha sentido antes.

Mas nem sempre o afeto é suficiente. Os filhos crescem, ganham asas, nem sempre mostram gratidão e reconhecimento pelo tanto amor que lhes é votado pela mãe. Será a cadela capaz de corresponder à dependência emocional que Damaris tem em relação a ela? Não poderá, tal como um filho, frustrar as expetativas da cuidadora? E qual é a fronteira entre o amor e o ódio? Será a traição capaz de despertar o que o ser humano tem de mais maléfico?

Numa linguagem fluída e muito bem trabalhada, Pilar Quintana foi uma excelente surpresa! Gostei imenso deste livro e recomendo-o.

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