Schrobsdorff, Angelika (2018). Tu Não És Como as Outras Mães. Lisboa: Alfaguara.
Tradução:
Helena Topa
Nº de páginas:
568
Início da
leitura: 14/05/2022
Fim da leitura: 15/05/2022
**SINOPSE**
Quando
se pensa que já se leu tudo sobre a Segunda Guerra Mundial, chega um testemunho
incrivelmente vívido de uma família que sobreviveu ao Holocausto.
Esta é a história de uma vida maior que a vida, um retalho de História
extraordinário.
Quem nos conta a história é Angelika Schrobsdorff, importante escritora de
origem alemã.
Era filha de Else e demorou quinze anos a pôr no papel a história da mãe, sem
sentimentalismos, mas com o amor e a admiração inevitáveis, criando um pedaço
de grande literatura, um clássico do nosso tempo.
Um
livro de pendor autobiográfico, ainda que ficcional (ficção autobiográfica),
que nos fala da II Guerra numa perspetiva diferente da que estamos habituados a
ler. Else é mãe de três filhos de três homens diferentes: Angelika, Peter e Bettina.
Apesar de judia, vive como uma alemã, em Berlim e revela-se uma pessoa única,
diferente das mães convencionais. Aliás, antes mesmo de ser mãe, já não era
como as outras raparigas. Apesar de mimada, egoísta e até infantil, femme
fatale, que se converte ao cristianismo (o que não era muito comum entre
judeus) ficando algumas sugestões de um romance com o padre, revelou-se também
dotada de uma grande generosidade no amor, capacidade de compreensão, prezou
sempre a sua liberdade e viveu uma vida muito pouco convencional.
Neste
romance é bem percetível a forma como a guerra foi entrando nas cidades e na
vida das pessoas. Em Berlim, viviam-se tempos áureos, onde a boémia e a cultura
andavam a par e passo. A partir do momento em que começa a perseguição movida
aos judeus, a protagonista vê-se obrigada a divorciar-se para se casar
ficticiamente com um búlgaro para, assim, se salvar da perseguição nazi. Mas, a
própria filha se questiona: como terá sido ela capaz de deixar os pais, sabendo
o que se estava a passar?
Durante
a estadia de Elsa na Bulgária, os filhos assumem posições diferentes: “Else
estava a ser triturada entre os três filhos: Peter, que queria ser judeu a cem
por cento, Bettina, que passara para o lado dos nazis, Angelika, que não era
capaz de formar uma ideia quer de uns quer de outros”. Talvez seja este o
grande motivo por que a própria Else sentia que tinha falhado como mãe.
A
história é narrada pela filha Angelika, que nos vai expondo as dúvidas que a
vão assolando, enquanto criança que é, sobre tudo o que se está a passar, sobre
as alterações no comportamento da mãe, a forma como se relaciona com os filhos
e até com os pais.
Outra
forma narrativa que permite complementar a narração de Angelika, são as cartas
que a mãe vai trocando com outras personagens, especialmente com os filhos.
Apesar
de Else se ter recriminado toda a vida pelo que não fez pelos filhos, pela mãe
que não conseguiu ser, penso que é uma personagem incrível, que acaba, pela sua
forte personalidade, por nos fascinar.
Achei
curioso conhecer a Alemanha do pós-guerra, porque, de certa forma, todos
sofreram com a guerra, que acaba por deixar marcas profundas em todos os países
envolvidos.
Além
da história, é de referir que o livro está muito bem escrito e que, por todos
estes motivos, recomendo a sua leitura.
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