J. Múñez, Fernando (2020). A Cozinheira de Castamar. Porto: Porto Editora.
Nº de páginas:
616
Início da
leitura: 20/07/2021
Fim da leitura:
24/07/2021
A
Cozinheira de Castamar
é um romance de Fernando J Múñez e traduzido por Carla Ribeiro.
Sinopse:
“Clara
Belmonte é uma jovem de uma família abastada que, após a morte do patriarca, um
dos mais prestigiados médicos de Madrid, se vê cair na mais completa pobreza.
Apesar
da educação primorosa que recebeu, Clara precisa de uma forma de sustento e
acaba por se candidatar a um trabalho nas cozinhas do palácio ducal de
Castamar, que conquista graças ao talento para a culinária que herdou da mãe.
Clara
não é bem recebida nos primeiros tempos. A sua eloquência, bem como o rigor na
limpeza das cozinhas e a ousadia no requinte dos pratos, depressa a elevam na
atenção dos habitantes da casa e no ciúme dos colegas de trabalho.
Mas
é Dom Diego, o duque de Castamar, quem Clara mais impressiona. Arrancando-o à
apatia absurda em que vive desde o estranho falecimento da mulher, a jovem
cozinheira fá-lo derrubar todas as barreiras, despertando-lhe o palato, o
intelecto e, por fim, o coração.”
Opinião:
Como aspetos mais positivos, saliento o ritmo, que é rápido, talvez pelo facto de a ideia de escrever este livro ter surgido ao autor, durante a rodagem do filme Rodolfo Sancho. Um dos conceituados atores, desafiou-o escrever uma série de época e, assim, escreveu a obra ao mesmo tempo que foi preparando o argumento para a televisão. E escreveu a obra, porque não se satisfez apenas com os guiões, afirmando que, e passo a citar, “Os guiões não deixam de ser obras que esperam converter-se em algo mais, como crisálidas que esperam transformar-se em borboletas.”
O
facto de haver uma contextualização histórica, que nos permite perceber
maneiras de agir e de pensar, também é um aspeto a favor. A história contextualiza-se
na Espanha do séc. XVIII, no período da guerra e do pós-guerra, numa sociedade
altamente machista, intransigente e esclavagista.
É interessante conhecer melhor a sociedade espanhola da época, as suas tradições (como o facto de não ser um hábito tomarem banho, porque se pensava que o banho trazia doenças), a violência de que eram capazes “por dá cá aquela palha”, o poder das pessoas de linhagem, que tinham imensos criados ao seu serviço, a forma como a mulher era vista, desde deusa a quem veneravam à rameira menor da plebe, um ser inferior, muitas vezes vítima de violência doméstica, por homens que bebiam excessivamente. E algumas atitudes hoje consideradas normais, eram vistas como atitudes de desonra, sendo fácil a mulher cair “em desgraça”. Por sua vez, alguns homens abusavam delas, usando-as a seu bel-prazer.
Mas,
ainda a salientar, os senhores de Castamar que, contrariamente a grande parte
dos senhores da época, devido à educação que lhes fora dada pelo pai, tinham
uma atitude diferente. Tinham adotado um negro, que o protagonista assumia como
irmão, seu igual, o que era visto com muito maus olhos pelos restantes. É
abordada uma relação homossexual, o que também não é comum, quando se retratam
estas épocas. A protagonista revela já, em determinados momentos, uma atitude
diferente de algumas mulheres subordinadas, quando impõe a sua forma de pensar,
de agir e até de falar, seja com alguém da sua suposta classe, seja de classe
superior. A forma como cozinha mostra o requinte a que não estavam habituados
na época e é através dos seus cozinhados que vai impondo a sua presença e
conquistando o respeito e admiração de grande parte dos que a rodeiam.
A
história principal parte de uma premissa, no meu entender, um pouco pobre, a
cozinheira que conquista o seu conde, através da atenção posta nos cozinhados.
Tirando
algumas questões amorosas demasiado previsíveis e, quanto a mim, algo “melosas”,
não deixa de ser um bom livro, bem escrito e apelativo.
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