Strout, Elizabeth (2018). O Meu Nome é Lucy Barton. Lisboa: Alfaguara.
Nº de páginas:
176
Início da leitura:27/07/2021
Fim da leitura:
28/07/2021
O
meu Nome é Lucy Barton é uma obra de Elizabeth Strout (vencedora de um Pulitzer
em 2009), traduzida por Rita Canas Mendes.
Sinopse:
“Mais do que uma história de mãe e filha, este é um romance sobre as distâncias por vezes insuperáveis entre pessoas que deveriam estar próximas, sobre o peso dos não-ditos no seio das relações mais íntimas e sobre a solidão que todos sentimos alguma vez na vida. A entrelaçar esta narrativa está a voz da própria Lucy: tão observadora, sábia e profundamente humana como a da escritora que lhe dá forma.”
Opinião: Este é um livro pequeno, mas grandioso
no que toca à abordagem dos sentimentos humanos nas relações familiares.
Este
não é um livro de ação, mas de reflexão. A protagonista Lucy Barton é internada
num hospital em Manhattan, na década de oitenta, devido a complicações
decorrentes de uma operação ao apêndice. Como o marido não gosta de hospitais,
por ter perdido o pai num, e, atendendo à idade das filhas, demasiado novas
para a visitar, Lucy vê-se remetida a uma cama de hospital, imersa na sua
solidão.
Entretanto,
recebe a visita da mãe, que não vê há muito tempo, que acedeu, instigada pelo
genro, a apanhar o avião e a visitar a filha. A partir daqui, decorrem longas
conversas entre as duas, onde recuperam memórias ou até a falta delas. Porém, a
mãe continua a mulher fria que sempre foi, austera, sem demonstrações de afeto,
incapaz de dizer à filha que a ama. Mas não amará ela, à sua maneira? Existe
uma maneira de amar? Podem existir várias, o que não pode é haver abuso de
autoridade e violência!
Lucy Barton gosta de ler e de escrever, é
profundamente só, pelas circunstâncias da vida, muito vulnerável, carente, mas,
ao mesmo tempo, poderosa. Esse poder está nas próprias palavras, na capacidade
de abrir o coração, expor o que transporta do seu passado, deixando-nos
angustiados, fazendo-nos refletir sobre a condição de vida desta família, a
condição das mulheres, a capacidade que cada um tem ou não para superar os
traumas de infância e seguir em frente. A escrita de Strout é dura, mas
elegante, convidando à reflexão e deixando-nos irremediavelmente presos do
início ao fim.
Os
diálogos entre as duas são impressionantes e deixo o convite à leitura desta
obra tão intensa.
Algumas
das frases que me marcaram mais:
“Isso
era-nos dito no recreio pelas outras crianças - «A vossa família cheira mal»”.
“a
minha mãe… batia-nos de forma impulsiva e com vigor…”
“…quando
os nossos seios se desenvolvem, a nossa mãe nos diz que começamos a parecer-nos
com uma das vacas do celeiro dos Pedersons?”
“…os
livros trouxeram-me coisas…. Fizeram-me sentir menos só.”
“Mas,
afinal, queria outra coisa. Queria que a minha mãe me perguntasse pela minha
vida”.
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