Reis, Patrícia (2019). As Crianças Invisíveis. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
Nº de páginas:
224
Início da
leitura: 28/07/2021
Fim da leitura:
29/07/2021
Sinopse:
“M.
é uma criança habituada a ser usada e devolvida por famílias sucessivas como um
produto que não satisfaz o cliente. Cresce numa instituição de acolhimento,
onde vai descobrindo o poder da amizade e as armadilhas do desejo e da paixão.
Esta é a sua história até chegar à idade adulta, atravessando um processo de
invisibilidade, no qual a dor se confunde com a esperança de encontrar uma vida
a que possa chamar sua. Ao seu lado existem outras crianças e ainda Conceição,
a assistente social que escolhe amar M. incondicionalmente.
As
Crianças Invisíveis é um romance que alia um exercício literário ímpar com um
profundo trabalho de investigação sobre abandono, maus-tratos e adoção.
Construindo toda a narrativa de uma maneira muito original, sem identificar o
sexo das crianças, e a partir do olhar delas, a escrita límpida, poderosa e
cirúrgica de Patrícia Reis conduz-nos, neste romance avassalador, através dos
sonhos, do medo e da intimidade de um conjunto de personagens que percorrem a
infância e a adolescência sem pai, nem mãe, nem identidade.”
Opinião:
Este
é um livro cuja temática me diz muito, uma vez que trabalhei durante três anos
numa Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. Infelizmente, é retratada aqui
uma dura realidade. As crianças não são objetos, não devendo ser adotadas sem
plena consciência de o querer com todas as responsabilidades que implica a
adoção. Adotar não é um ato de vaidade, não é um sentimento de pertença, não é
uma forma de calar as invasões da sociedade que nos rodeia. Adotar é acolher no
coração, é tornar a criança em sangue do nosso sangue. É um ato de entrega, é
não pensarmos primeiro em nós, mas sim na criança. Mas, sabemos bem que, muitas
vezes, nem os próprios pais agem em conformidade com o dever. M. é uma das
muitas crianças institucionalizadas, vítima de vários abandonos, não passando
nunca da pré-adoção. Quando não serve os propósitos de quem adota, há que
devolver! É revoltante, por ser tão real! E, quando perguntam ao M. de qual das
famílias gostou mais, ele prontamente responde que é a que tem na instituição,
a que chama de a Casa.
Acompanhamos
o crescimento de M., os seus medos, as suas dúvidas, o desenvolvimento da sua
sexualidade, a relação com os amigos que fez na instituição, os que partem e os
que chegam.
Gosto
muito da forma intimista, crua, nua, dura, como o livro está escrito. A forma
como é retratado o pensamento da criança face às atitudes dos adultos, faz-nos
meditar.
É,
sem dúvida, um livro muito bom! É um livro que deve ser lido, não só pela
temática, mas pela forma como foi escrito!
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