Tenório,
Jeferson (2021). O Avesso da Pele. Lisboa: Companhia das Letras.
Nº de páginas:
200
Início da
leitura: 20/08/2021
Fim da leitura:
20/08/2021
O
Avesso da Pele é um romance escrito por Jeferson Tenório, nascido no Rio de
Janeiro e residente em Porto Alegre.
Sinopse:
“Agora que o pai morreu, inesperada e precocemente, Pedro tem pouco mais a que se agarrar senão aos ensinamentos e às memórias deixadas pelo pai, professor de Literatura na rede de ensino público. E homem negro, num país que julga os homens e as mulheres pela cor da pele. Esvaziado pela ausência, Pedro retraça os passos de Henrique nas ruas, procura vestígios seus nos pertences deixados no apartamento. Reduzido por vontade da mãe a uma relação intermitente com o pai, resta a Pedro a possibilidade de reconstruir ou imaginar o passado de Henrique enquanto homem, enquanto pai para, pelo caminho, procurar o entendimento de si próprio. Nesta rota íntima de Pedro, Jeferson Tenório faz uma delicada investigação das relações entre pais e filhos, ao mesmo tempo que esboça um retrato poderoso de um país sulcado pela segregação e pela pobreza, em que muitos não podem mostrar por vezes, nem sentir o seu avesso, esse espaço onde "entre músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu, isolado e único".
Opinião:
Mais
do que um romance escrito para abordar a temática do racismo, este romance, de
forma mais ampla, aborda várias questões familiares, encontros, desencontros,
paixões, submissões, inconformismos, desistência, abandono, relações
inter-raciais, o genocídio da população brasileira…
Pedro
é o narrador da história do pai e da mãe, Martha e Henrique, ambos negros.
Depois do assassinato do pai, Pedro procura conhecer o passado da família, para
se entender a si próprio.
A
narrativa é dura, direta e choca pela crueldade e violência vivida logo a
partir da infância. Bem escrito, bem estruturado e, com toda a certeza, um
marco na literatura brasileira contemporânea.
Destaco
uma passagem, em que Henrique fala com o filho, que me marcou particularmente e
que explica o título da obra:
“É
necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê.
Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso
modo de estar no mundo. E por mais que a sua vida seja medida pela cor, por
mais que suas atitudes e modos de viver estejam sob esse domínio, você, de
alguma forma, tem de preservar algo que não se encaixa nisso, entende? Pois
entre músculos, órgãos e veias, existe um lugar só seu, isolado e único. É nesse
lugar que estão os afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos.”
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