Isaac, Maria (2021). O que Dizer das Flores. Lisboa: Cultura Editora.
Nº de páginas:
224
Início da
leitura: 24/08/2021
Fim da leitura: 25/08/2021
Sinopse:
“Bem-vindo
a Mont-o-Ver!
Português
que se ponha a caminho da montanha, no inverno, ou da praia, no verão, é certo
passar por esta planície de canaviais; mais certo ainda, nem dar por ela. A
velha linha férrea passa-lhe ao lado e os comboios já nem sequer abrandam por
aqui. Em tanto espaço igual, esta é paisagem fácil de se perder.
Pois
permitam que vos apresente os ilustres da vila.
O
padre Elias Froes, o homem santo que tem por hábito gastar tempo a pensar no
mundo, raramente em si próprio. Guarda segredos que mais ninguém sabe.
Catalina
Barbosa, aventureira e contestatária. Menina bem-comportada apenas aos
domingos, quando a avó a amordaça dentro de um vestido bonito para ir à missa.
Rosa
Duque, a mulher que, em tempos, teve tudo para ser feliz. Foi vencida por um
coração partido e resgatada por uma flor.
Zé
Mau, o terror na vida das crianças. Os irmãos Mondego, os vilões nas histórias
dos adultos.
Este
vilarejo pode até ser pequeno e parado, mas está cheio de gente atrapalhada com
muita vida para esconder.
Descubram
comigo o que aconteceu, afinal, na noite do grande incêndio de há uma década e
quem são os verdadeiros heróis desta nossa história pitoresca, temperada com os
habituais mal-entendidos.
Bem-vindo a Mont-o-Ver!”
Opinião:
Já
tinha gostado do livro Onde Cantam os Grilos, mas este, quanto a mim, é
ainda melhor. Resgata o Formiga do livro anterior, que agora, se dirige a estas
localidades numa velha furgoneta, como uma biblioteca itinerante. Catalina, a
criança rabina, que só se porta bem aos domingos, é a sua cliente mais assídua.
Os livros são a forma de Catalina partir para mundos imaginários, tentar
compreender, com um pouco de ficção, o mundo real. Talvez, por isso, acredite
que o pai foi preso injustamente e há de voltar para a sua vida, explicar que
tudo não passou de um equívoco.
A
vida pode pregar muitas partidas e, com efeito, numa terra pequena, tudo pode
acontecer.
Aproveito
a metáfora da terra, utilizada pela autora, e passo a citar “A terra é como uma
mulher vaidosa: só sorri aos homens se for cuidada…”, para refletir: com
efeito, muitas vezes, sobretudo em terras mais pequenas, julgam-se as pessoas
pelo poder e dinheiro que têm. Estará mais do que na altura de cuidar de todos
e de dar oportunidade a todos os habitantes da terra de serem cuidados, ouvidos
e não postos de parte, julgados e condenados. E é preciso cuidar destas terras
cujas autoestradas vieram remeter a pó e esquecimento, fechar lojas,
desertificar e abandonar. É necessário cuidar destas pessoas, também elas votadas ao abandono.
Este
é um livro que nos prende pelo suspense criado logo a partir das primeiras
páginas. As personagens são tão reais que nos fundimos com elas, na praça da
aldeia, para assistir ao debate político. Contudo, gostaria de ter sabido um pouco
mais sobre cada uma destas pessoas que acompanhei durante a leitura do livro,
perceber certas atitudes, certas decisões. Mas, se calhar, não era essa a
intenção da autora e respeito-a.
Aconselho
a ler, mas depois de Onde Cantam os Grilos.
Considero
que Maria Isaac ainda nos vai surpreender muito neste universo literário! Não
escreve sobre banalidades e revela uma escrita literária bonita, com recursos estilísticos q.b. para a embelezar e encantar.
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